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Por falta de tempo, a classe médica avalia cada vez menos os pacientes, e a semiologia – técnica que ensina o médico a examinar e fazer as perguntas adequadas ao paciente – é, de certa maneira, deixada de lado. "Nem sempre dois sintomas em regiões diferentes do corpo não se relacionam. A investigação mostra isso", afirma o médico pneumologista pediátrico Orlei Kantor Junior. Elevados índices de exames complementares são consequência de uma má avaliação. "O normal seria o médico ter ideia do diagnóstico e pedir exames para confirmar. Hoje, porém, os médicos estão tratando os exames em vez do paciente", afirma Kantor Junior.

Tese de doutorado defendida por Cristiane Sonia Arroyo, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), constatou que a média de tempo das consultas no Brasil era menor do que 10 minutos. O estudo analisou como o tempo de atendimento influencia na avaliação de qualidade feita por usuários das unidades de saúde. Nas instituições públicas, o tempo médio de consulta variou entre 8 e 52 minutos. No serviço privado, ficou entre 13 e 26 minutos. Não coincidentemente, o local com menor tempo para consultas registrou a pior avaliação dos pacientes.

Conforme Orlei Kantor Junior, uma consulta deveria variar entre 30 e 60 minutos, dependendo da gravidade do caso. Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, o código pretende resgatar o humanismo médico, em fase de extinção após o avanço tecnológico dos últimos anos. "Não podemos cercear os médicos na solicitação de exames, mas é preciso diminuir a distância entre médico e paciente", diz.

É inimaginável, no entanto, que médicos filiados aos planos de saúde consigam se dedicar a uma só pessoa por esse período. "Os planos de saúde não estão preocupados com a relação médico-paciente. Há planos que fazem propaganda de UTI aérea, mas se esquecem de remunerar melhor os profissionais da saúde", diz. Em sua análise, Cristiane também verificou que os médicos do setor privado atendem mais pacientes do que os do setor público. "Justamente por essa falta de condições de trabalho, muitos médicos têm se descredenciado", afirma Kantor Junior.

Na opinião do primeiro secretário do CFM, Desiré Carlos Callegari, o novo código, por si só, não vai melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS) e nem sequer os honorários pagos por planos de saúde. "É preciso investimentos em infraestrutura e aumento do número de médicos em unidades de saúde públicas", afirma.

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