Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical"| Foto: Reprodução www.globo.com/paraisotropical

Uma das principais dificuldades do processo de educação dos filhos apontadas por pais, educadores e psicólogos é a imposição de limites. A situação se agrava ainda mais quando se trata da relação das crianças com o consumo. "Antigamente, as crianças sentiam prazer com brincadeiras autônomas, mas atualmente elas são bombardeadas com informações que têm como objetivo seduzi-las para que sintam a necessidade daqueles produtos e só se satisfaçam se seus desejos forem atendidos", explica o psicólogo e professor de neurociência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Naim Akel Filho.

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Para ele, as propagandas são eficientes em convencer as crianças porque atualmente os profissionais da área têm muito mais conhecimento da mente humana. "Se há um maior conhecimento, a manipulação fica mais fácil", comenta. Já o professor de Psicologia da Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Américo Agostinho, acredita que as propagandas não influenciam as crianças diretamente e que os pais são seus principais alvos. "Muitas vezes não é a criança que quer o produto, é o pai que incentiva a compra pelo status social. Normalmente, quem valoriza a marca são os pais e as crianças vão internalizando esses valores e se tornam adultos consumistas mais tarde."

No entanto, ambos os psicólogos concordam que a escola também é um elemento fundamental para o desenvolvimento do senso crítico das crianças em relação ao consumo. "É importante que os professores falem sobre o tema na escola, principalmente com atividades de avaliação do preço dos produtos que consomem e analise os hábitos de toda a família", afirma Agostinho. Nesse ponto, a Escola Trilhas, em Curitiba, desenvolve projetos de conscientização dos alunos em relação ao consumo. "Nosso objetivo é abrir o olhar tanto dos alunos como dos pais para os valores da sociedade de consumo, já que todos precisam de um direcionamento", explica a coordenadora do Ensino Fundamental, Andrea Cordeiro.

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Dessa forma, os pais são envolvidos no projeto e também acabam participando das atividades. "Eu trabalho com jovens porque sou professor universitário e percebo que hoje em dia há um processo de infantilização e futilização dos adultos. Por isso, acredito que esse trabalho de conscientização tem de ser feito desde cedo para que as crianças tenham senso crítico e sejam autônomas", comenta o professor da UFPR, Aléx Ferraresi, pai de Fellipe, de 7 anos, e Rafaella, de 12.

As próprias crianças percebem o resultado positivo das discussões proporcionadas em sala de aula. Entre os trabalhos desenvolvidos na Trilhas, alguns alunos fizeram uma análise da influência dos desenhos animados no consumo de brinquedos e outros produtos licenciados. "Eles trouxeram todos os produtos licenciados que tinham em casa e ficaram impressionados com a quantidade, que chegou a quase 600", comenta Andrea. O aluno da 3.ª série João Antônio Guerra, 9 anos, é um dos que aprenderam a lição. "Tem gente que vê o desenho e quer comprar todos os produtos relacionados. E a gente aprendeu que não precisa ser assim."