Uma das principais dificuldades do processo de educação dos filhos apontadas por pais, educadores e psicólogos é a imposição de limites. A situação se agrava ainda mais quando se trata da relação das crianças com o consumo. "Antigamente, as crianças sentiam prazer com brincadeiras autônomas, mas atualmente elas são bombardeadas com informações que têm como objetivo seduzi-las para que sintam a necessidade daqueles produtos e só se satisfaçam se seus desejos forem atendidos", explica o psicólogo e professor de neurociência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Naim Akel Filho.
Para ele, as propagandas são eficientes em convencer as crianças porque atualmente os profissionais da área têm muito mais conhecimento da mente humana. "Se há um maior conhecimento, a manipulação fica mais fácil", comenta. Já o professor de Psicologia da Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Américo Agostinho, acredita que as propagandas não influenciam as crianças diretamente e que os pais são seus principais alvos. "Muitas vezes não é a criança que quer o produto, é o pai que incentiva a compra pelo status social. Normalmente, quem valoriza a marca são os pais e as crianças vão internalizando esses valores e se tornam adultos consumistas mais tarde."
No entanto, ambos os psicólogos concordam que a escola também é um elemento fundamental para o desenvolvimento do senso crítico das crianças em relação ao consumo. "É importante que os professores falem sobre o tema na escola, principalmente com atividades de avaliação do preço dos produtos que consomem e analise os hábitos de toda a família", afirma Agostinho. Nesse ponto, a Escola Trilhas, em Curitiba, desenvolve projetos de conscientização dos alunos em relação ao consumo. "Nosso objetivo é abrir o olhar tanto dos alunos como dos pais para os valores da sociedade de consumo, já que todos precisam de um direcionamento", explica a coordenadora do Ensino Fundamental, Andrea Cordeiro.
Dessa forma, os pais são envolvidos no projeto e também acabam participando das atividades. "Eu trabalho com jovens porque sou professor universitário e percebo que hoje em dia há um processo de infantilização e futilização dos adultos. Por isso, acredito que esse trabalho de conscientização tem de ser feito desde cedo para que as crianças tenham senso crítico e sejam autônomas", comenta o professor da UFPR, Aléx Ferraresi, pai de Fellipe, de 7 anos, e Rafaella, de 12.
As próprias crianças percebem o resultado positivo das discussões proporcionadas em sala de aula. Entre os trabalhos desenvolvidos na Trilhas, alguns alunos fizeram uma análise da influência dos desenhos animados no consumo de brinquedos e outros produtos licenciados. "Eles trouxeram todos os produtos licenciados que tinham em casa e ficaram impressionados com a quantidade, que chegou a quase 600", comenta Andrea. O aluno da 3.ª série João Antônio Guerra, 9 anos, é um dos que aprenderam a lição. "Tem gente que vê o desenho e quer comprar todos os produtos relacionados. E a gente aprendeu que não precisa ser assim."
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