Pela cidade
Saiba onde a reportagem encontrou pontos de droga:
Parolin
- Rua Antônio Parolin Junior, entre as Ruas Brigadeiro Franco e a Lamenha Lins.
- Rua Acácio Correa, esquina com Rua Padre Isaías de Andrade.
Jardim Botânico
- Avenida Affonso Camargo, região da Rodoferroviária.
Centro
- Rua Conselheiro Laurindo, entre a Sete de Setembro e a Visconde de Guarapuava.
- Rua Mateus Leme, esquina com Rua Carlos Cavalcanti.
- Rua Cândido Lopes, em frente à Biblioteca Pública do Paraná.
Vizinhança
"Audácia gerada pela impunidade"
Para o comerciante Carlos (nome fictício), 55 anos, morador do Parolin há 12 anos, a falta de segurança, o uso e o tráfico de drogas no bairro já o levaram a pensar em colocar sua casa à venda. Depois de a esposa ser assaltada e a filha sequestrada, a família adotou um código de conduta para sair e chegar em casa a fim de se prevenir. "A segurança é uma preocupação constante." Ele conta que meninas circulam livremente pelo bairro e, aparentemente, agem como prostitutas, mas é possível vê-las entrando e saindo de carros com pequenos pacotes brancos que parecem ser droga. "Hoje, eles [usuários e traficantes] estão mais ousados. É uma audácia gerada pela impunidade".
Jogo aberto
Vida e filhos trocados pela droga
Usuária de crack há uma década, Maria (nome fictício), 23 anos, deixou dois filhos com a avó, abandonou o emprego e uma vida de classe média. Para comprar crack, passa o dia procurando dinheiro, roubando ou se prostituindo. Sem qualquer constrangimento, ela conversou com a reportagem embaixo de um viaduto de Curitiba, onde passa a maior parte do tempo "queimando pedra". "Tenho segundo grau completo, trabalhei em shopping, em posto de gasolina, tenho curso de informática, mas já faz alguns anos que moro na rua", conta orgulhosa, sem saber por que começou a usar drogas. Se pudesse, ela fumaria uma pedra atrás da outra, mas a falta de dinheiro a obriga ter intervalos. "Faço meu corre [para conseguir dinheiro]. Roubo. A mulher que fuma crack e diz que não faz programa é mentirosa", afirma.
Interatividade
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Cerca de 70% das pessoas em situação de rua em Curitiba consomem álcool ou algum tipo de entorpecente. São, em média, 3 mil pessoas vivendo nas ruas da capital, segundo a Coordenadoria de Resgate Social da Fundação de Ação Social (FAS). O crack é a droga predominante entre esses indivíduos. E não é incomum encontrá-los nas calçadas, esquinas e praças, tragando o entorpecente em suas latinhas ou cachimbos. De janeiro a novembro de 2011, o telefone 156 da prefeitura recebeu 2.409 denúncias contra pessoas alcoolizadas ou drogadas nas ruas em torno de sete reclamações por dia.
Na última semana, a reportagem da Gazeta do Povo encontrou seis pontos de consumo de crack no Centro e outros bairros de Curitiba. O objetivo foi tentar entender a realidade desses usuários, que constituem hoje um dos principais problemas de saúde pública do país.
Em um dos pontos, no Parolin, algumas pessoas foram flagradas vendendo a droga, comportamento comum entre os usuários de crack, que passam a traficar para sustentar o vício. Em plena luz do dia, um rapaz, aparentando 18 anos, caminhava tranquilamente com uma pistola preta no meio da Rua Antônio Parolin Junior entre as ruas Brigadeiro Franco e Lamenha Lins. Tudo a uma quadra do Centro de Referência de Assistência Social da FAS.
Diferentemente de São Paulo, onde há uma grande "cracolândia" na região central, Curitiba tem pontos de consumo da "pedra" em quase todas as regiões da cidade. "Em Curitiba tem vários locais até pela escala de tamanho da cidade. É possível [que tenhamos uma cracolândia como em São Paulo], mas acredito que pelas [pequenas] dimensões da cidade seja mais complicado acontecer isso aqui", explica o coordenador do Centro de Estudos da Violência da UFPR, Pedro Bodê. Por Curitiba ser uma cidade menor, a concentração de usuários em uma área teria mais visibilidade.
Desde o início do mês, a "cracolândia paulista" virou alvo de diversas operações policiais. Em 17 dias, mais de 2 mil pessoas foram abordadas por agentes de saúde, 99 foram internadas e 12 encaminhadas para tratamento. As intervenções não foram totalmente apoiadas pelas entidades sociais, pois teriam provocado uma migração dos usuários para outros locais. Nenhuma operação semelhante foi feita em Curitiba até agora.
Combate
Na avaliação de Bodê, o combate ao consumo do crack ainda não é uma prioridade para os governos. "É um problema de saúde pública. A atuação do governo ainda é tímida, apesar de anunciarem investimentos. Se fosse prioridade, investiriam mais.", critica.
Para o coordenador estadual do Programa 181 Narcodenúncia da Polícia Militar, tenente Edivan Fragoso, a urbanização da região central tem contribuído para a dispersão dos usuários. Melhor iluminação, revitalização das ruas, investimento na instalação de câmeras de segurança e denúncias geram uma resposta positiva. "O usuário quer um local que não seja incomodado", comenta.
Fragoso acredita que a atuação policial deve ser constante, mas as ações só serão eficazes quando o poder público atuar de forma integrada. "Quando há migração é porque não houve suporte de outras áreas. Isso demonstra que o usuário não é um problema de segurança pública. Não devem ser tratados como moscas que são espantadas."
Consultório vai às ruas
Há um ano e meio instalado em Curitiba, o Consultório de Rua, um programa da prefeitura, com apoio do governo federal, fez 800 atendimentos em 2011. O projeto conta com seis profissionais psicólogos, psiquiatras, educadores e assistente social para tentar abrir melhores caminhos para os usuários de droga que estão no Centro de Curitiba. Ao lado dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), o consultório é hoje o principal programa de saúde na área.
"A gente tenta desconstruir a relação que eles têm com a droga para se abrirem a novas perspectivas", explica a psicóloga do programa Adriane Wolmann. Às quartas-feiras, o consultório se instala em uma das praças do Centro da cidade para, em um trabalho de "formiguinha", tentar salvar a vida dessas pessoas.
"O trabalho consiste em prevenção, educação, intervenções terapêuticas para reduzir danos", conta Adriane. Quando há uma abertura e uma conscientização, os usuários são levados a unidades de saúde, Caps ou comunidades terapêuticas. Segundo Adriane, o caminho é longo e não se pode trabalhar apenas pela lógica da abstinência, que é uma das metas. "Eles precisam encontrar outra coisa para se identificar na vida que não seja o crack." Ela conta que a ampliação do trabalho do consultório para outros bairros é cogitada.
Medidas públicas
A Fundação de Ação Social (FAS) é o órgão municipal responsável por ações de resgate social em toda a cidade. Segundo a coordenadora do Resgate Social da FAS, Luciana Kusman, a grande dificuldade é fazer com que as pessoas em situação de rua queiram sair dessa condição. "Não dá para fazer nada na opressão", explica.
O governo federal anunciou recentemente que investirá R$ 4 bilhões no combate ao uso de crack no país. No entanto, de acordo com o Ministério da Justiça, ainda não se sabe quanto deste total será destinado para cada estado e cidade.
Colaboração Gabriel Azevedo.
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