Negócios entre cooperativas
Segundo a gerente da unidade Sicredi na Zona Norte de Londrina, Josaine Blassioli, um dos motivos de incluir entre seus associados os integrantes da cooperativa de recicladores foi enxergar as semelhanças entre o Sicredi e a Cooperoeste e sua forma de gestão. De acordo com Josaine, faz parte dos objetivos do Sicredi estimular o crescimento econômico da região em que está inserida. "O diferencial de uma cooperativa de crédito é que o associado é dono do negócio. O lucro, que são as sobras, são distribuídas entre os cooperados, conforme o capital social de cada um."
A gerente diz que, nesses dois meses, é perceptível a mudança na autoestima desses trabalhadores ao poder gerir suas despesas de forma prática. "Eles mudaram a forma como se veem. Se veem agora como cidadãos", observa. "A gente vê como ficaram felizes em ter um cartão, em poder ir ao mercado, por exemplo, e comprar no débito. Para nós, essa parceria foi muito válida."(Nara Chiquetti)
Pagar uma compra com um cartão de débito é uma atividade comum e corriqueira para a maioria dos brasileiros. Mas para cerca de 200 recicladores da Cooperoeste - responsável pela coleta, separação e destinação de recicláveis de 108 mil domicílios de Londrina representa uma vitória. Há dois meses, os cooperados recebem seus salários por meio de depósitos em contas bancárias, das quais podem sacar com cartão de débito e em alguns casos - , até crédito. As contas bancárias são o resultado de uma parceria inédita entre a Cooperativa de Crédito Sicredi e a Cooperoeste. Os recicladores entraram com capital social simbólico de R$ 20.
Segundo a psicóloga da Cooperoeste, Regina Tereza Inocente, a parceria só foi possível graças à disposição do Sicredi de assumir o trabalho de juntar a documentação dos recicladores. "Nós tivemos outras propostas de bancos para abrirmos contas salário, mas nunca fomos adiante porque tínhamos que reunir a documentação de todos e entregar ao banco. Aí eles iriam analisar e nos dar resposta se seria viável em 60 dias. A maioria dos nossos cooperados, no entanto, tem restrições sérias ou por falta de documentação ou por nome sujo na praça. E sabíamos que não iríamos conseguir abrir contas para todos", explica. Como são apenas três pessoas no administrativo da Cooperoeste, o trabalho de juntar a documentação também não seria possível. "Ou a gente trabalhava para a cooperativa funcionar ou corria atrás dessa documentação", conta a assistente social Elisângela da Silva, responsável pela maior parte do trabalho burocrático.
De acordo com Regina, o Sicredi entrou na história depois que um conhecido dela comentou em um jantar com diretores da cooperativa de crédito das dificuldades da Cooperoeste. "Ele comentou que todo mês a gente preenchia os cheques de pagamento à mão porque não tínhamos como fazer o depósito em conta. E o diretor se interessou pelo caso. Vieram nos visitar, conhecer o trabalho e conversar sobre a parceria", diz.
Segundo ela, a parceria só saiu porque os funcionários do Sicredi assumiram o trabalho e foram em cada entreposto conversar com os recicladores, explicando sobre a importância do uso consciente do crédito e sobre os benefícios que uma conta em uma cooperativa de crédito oferece, além de ajudar na documentação. "Eles levaram até copiadoras para fazer cópia dos documentos e poupar o trabalho de cada um", conta Regina. Graças a essa disponibilidade do Sicredi, todos foram contemplados com uma conta-corrente. "Mesmo aqueles com restrições de crédito, hoje tem uma conta salário", conta Elisângela.
Conta salário trouxe tranquilidade sem pagar ágio
O cartão de débito, ainda uma novidade para a maioria dos recicladores da Cooperoeste, representa uma grande vitória, diz Fátima Pereira dos Santos, 35 anos. Trabalhando hoje na mesa de separação do entreposto do Parque das Indústrias Leves (zona leste), Fátima está há 15 anos na atividade. "Eu trabalhei no Lixão de Londrina. A minha foi uma das famílias retiradas de lá", conta. Depois disso, ela trabalhou na rua, "catando" material sozinha, integrou uma ONG e, por fim, se agregou à cooperativa.
Para ela, além dos ganhos maiores e mais conforto para desenvolver seu trabalho, a cooperativa lhe deu também dignidade, oferecendo o serviço de conta em banco. "Antes, quando pegava o pagamento, eu só tinha duas opções: ou perdia meio dia de serviço para ir ao banco ou tinha que gastar até 70% do valor no supermercado para que eles me trocassem o cheque. A gente era obrigada a pagar ágio para ter o dinheiro na mão. Agora, eu gasto só o valor que eu quero e não perco nenhum minuto de serviço. A gente evoluiu muito", diz.
Não perder um minuto de serviço é importante para os recicladores, que recebem por produtividade. E foi disso que Juliana Aparecida da Silva, 28 anos, mais gostou na novidade. Ela bateu o recorde de produtividade do entreposto e recebeu, no mês, cerca de R$ 1,5 mil, três vezes mais que o que tirava trabalhando na rua, recolhendo material sozinha. Feliz, ela não esconde o orgulho pelo que faz. "E agora a gente não perde um centavo. Dá mais tranquilidade para trabalhar", conta.
A coordenadora do entreposto, Eliana Calixto da Silva Cerdeira, 35 anos, diz que todo mundo no local ficou mais tranquilo com o depósito dos salários nas contas. "Antes, no dia do pagamento, todo mundo ficava tenso, esperando o cheque. Saíam brigas, era um nervosismo só. Hoje, isso não acontece mais porque eles sabem que o dinheiro já está lá, à disposição", conta. Esta também é a primeira vez que Eliana tem um cartão de débito.
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