Quem passa pela BR-487 pode estranhar um índio branco que vende artesanato na beira do asfalto, a 12 quilômetros de Cândido de Abreu, na região Central do Paraná. É Barrerito – nome que lembra a cor característica da pele dos indígenas –, um dos cinco albinos entre os 701 moradores da aldeia caingangue Faxinal. Essa mutação genética marcante fica ainda mais evidente em uma população fisicamente tão parecida. Edívio Batistelli, principal indigenista paranaense, estima que há cerca de 50 índios albinos no estado. Ele e o biólogo Hugo Alves, que pesquisou a incidência de casos entre indígenas, acreditam que os albinos não foram mortos pelos pais porque a aproximação com a “cultura branca”, para além de todos os danos que causaram aos índios, ajudou a extirpar a prática do infanticídio nas aldeias (veja texto explicativo nesta página).
Barrerito, de 18 anos, é irmão dos também albinos Geane e Camilo, de 4 e 11 anos, respectivamente. A mãe Maria Geni tem outros dois filhos e diz não ter estranhado quando os bebês nasceram completamente brancos.
Por não conhecer o processo genético que causa o albinismo, os índios buscam explicações na natureza. O cacique José Notanh, de 39 anos, conta que os moradores da aldeia acreditam que os filhos nascem alvos quando a mulher toma um determinado “remédio do mato”. Ele comenta que a primeira vez que ouviu falar em índio branco foi sobre uma menina da aldeia de Manoel Ribas, distante 40 quilômetros. Ela seria aparentada de alguns albinos de Faxinal.
Os albinos não têm tratamento diferenciado na comunidade. Não são tratados melhor nem pior: são iguais aos outros, apesar das diferenças físicas. “Ninguém estranha”, diz o cacique, reforçando que os índios nem tentaram saber a explicação para o nascimento de albinos. O único cuidado que tomam é não se expor ao sol na mesma medida que os demais moradores da aldeia. “Ou a pele racha”, conta o cacique. Eles raramente usam protetor solar.
Assim, os albinos acabam não trabalhando em algumas atividades, como a lavoura. Eles também têm dificuldades para enxergar – não se sabe ao certo quanto a visão está comprometida. Mas os olhos tremem e as pálpebras ficam quase fechadas a maior parte do tempo, principalmente na claridade.
Vinícius Clemente, de 24 anos, tem dificuldade para abrir os olhos. Mas diz não evitar o sol. Ele tem um irmão albino, Clemente, e outros cinco morenos.
“[Ser albino] nunca me atrapalhou. Nunca me explicaram porque sou assim, nem quis saber”, conta, em português arrastado – ele é professor de caingangue.
Na aldeia Araçaí, também conhecida como Karuguá, em Piraquara, a 340 quilômetros da Faxinal, outros três índios brancos se destacam entre os 100 moradores. Uma é Jocelina, com 30 anos. Os pais dela são primos. E morenos. E ela teve dois filhos, com pele e cabelos escuros. Os outros dois albinos são os irmãos Thayná e Altieres, que têm dois irmãos de pele bronzeada de sol.
Assim como em Piraquara, em muitas outras comunidades indígenas os casamentos entre aparentados resultaram em nascimentos de albinos.