Brasília Lula promete que não será candidato à reeleição em 2010, mesmo que uma reviravolta legal permita sua entrada na disputa. Por outro lado, tentará encaixar um sucessor que seja da base aliada. No momento, admite o diálogo e até uma aliança com o PSDB, mas diz que está focado na consolidação de uma grande coalizão para manter a governabilidade do país.
Os posicionamentos políticos, que já renderam especulações das mais variadas, saíram ontem da boca do presidente, durante a primeira entrevista coletiva do segundo mandato. Há dois anos, o Planalto não promovia esse tipo de evento. Descontraído e de bom humor, Lula respondeu a 15 perguntas de repórteres de jornais e televisões durante quase duas horas.
Além dos temas políticos, falou sobre questões polêmicas como aborto, violência e, principalmente, economia. Foi poupado de se explicar sobre corrupção no mandato passado e ficou centrado no otimismo puxado pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em quatro perguntas, o presidente teve oportunidade de fazer revelações sobre as alianças atuais e o encaminhamento da sucessão. Inicialmente, explicou que não deseja ser candidato porque isso seria como "brincar com a democracia". "Eu fui contra a reeleição até o momento em que a lei perdurou, e eu fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia que eu fosse o candidato", disse.
Em seguida, foi indagado sobre quem apoiaria e se daria preferência por alguém da base aliada. Disse que sim, mas que o nome não precisaria ser escolhido necessariamente dentro do PT. "Se eu estou dizendo que é um candidato da base, e a base tem vários partidos políticos, vai ser um candidato da base, de dentro da base", justificou.
Dentro da formação da base aliada, o presidente teve de explicar os motivos para a acomodação de ideologias tão distintas dentro do governo. Garantiu que trabalha para a formação de uma "coalizão". E que o seu princípio é o respeito da proporcionalidade daqueles partidos com mais representantes eleitos pelo povo.
"Quando você faz aliança política, ela tem preço", justificou. Segundo ele, essa lição veio com as três derrotas em candidaturas anteriores à Presidência. "A cada eleição que eu perdia, eu perdia por 15%. Chegou um dia em que alguém me convenceu de que eu não precisava mais ficar fazendo discurso para agradar ao PT, que eu não precisava mais ficar fazendo discurso para agradar aos 30% ou 35% que eu tive em todas as eleições. Era preciso que eu me preparasse para ter do meu lado os 15% que faltavam. E eu me preparei e ganhei a eleição."
"Namoro"
Em seguida, disse que não fez acordos individuais com pessoas, mas com partidos. Usou como exemplo o "namoro" com o PMDB, que, segundo ele, foi feito por inteiro e não de maneira fracionada. "Eu queria o PMDB na sua totalidade, com os seus deputados, com os seus senadores e com a direção do partido. Eu não queria um PMDB que tivesse 40 deputados de um lado, 40 deputados do outro, 10 senadores de um lado, 10 senadores do outro."
Na última pergunta sobre política, Lula surpreendeu ao comentar positivamente a aproximação com o PSDB. Alegou que sempre teve boas relações aos tucanos e lembrou que, por pouco, não firmou uma parceria com o partido nas eleições de 1994. "Se não fosse o Plano Real, o PSDB teria indicado o vice na minha chapa, e não foram poucas as reuniões que nós fizemos para que isso acontecesse."
Não deixou claro, no entanto, o que pensa sobre a hipótese de apoiar o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em 2010. "Eu mantenho relações muito boas com muita gente do PSDB, com o (José) Serra, com o Aécio, com o Tasso Jereissati." Por último, disse estar disposto a dialogar com Fernando Henrique Cardoso. E que faria um convite para recebê-lo no Planalto. "Eu não tenho por que não conversar com ele. Se ele acha que eu errei em não convidá-lo, não será por falta de convite que a gente não vai conversar."