Um vício em comum leva homens de ao menos 10 diferentes países a uma 'reunião virtual' toda semana, para dar suporte uns aos outros - eles lutam contra a compulsão por pornografia. Dados de 2018 mostram que 22 milhões de brasileiros recorrem a esse tipo de conteúdo.
A iniciativa "180 Recover" foi fundada por John Doyel, 66 anos, em 2009, um ex-pastor que conseguiu interromper o hábito e agora ajuda outras pessoas, a partir de orientações de fé cristã. Milhares delas, espalhadas em 57 países, além disso, são aconselhadas por Doyel por meio de e-mails e podcasts.
No último dia 23, durante o evento Consciência Cristã, em Campina Grande, na Paraíba, Doyel contou sua história a milhares de evangélicos, revelando as consequências que a exposição à pornografia, desde os 12 anos, causou em sua vida: depressão, infidelidade no casamento e distanciamento das relações humanas.
"Vivemos em um mundo sexualizado. Na internet, nas fotos, nos outdoors. A todo o momento as pessoas estão sendo estimuladas à sexualização, nossa cultura nos criou para olhar as pessoas como objetos que podemos usar", disse. O advento da internet, sobretudo, tornou mais acessível do que nunca esse tipo de conteúdo.
Segundo ele, a pornografia é uma falsa intimidade que causa um bem-estar momentâneo. "Homens e mulheres, quando não se sentem estimulados sexualmente, não se sentem normais. A mesma coisa é verdade para quem é viciado em heroína. A primeira vez, é fantástico. Mas, eventualmente, ele vai precisar de mais, e de maneira mais frequente. Em certo ponto, vai depender só disso para se sentir normal".
Pesquisas revelam que o consumo de pornografia é capaz de causar dependência similar ao vício em cocaína ou álcool, por exemplo. E a compulsão envolve, além disso, consequências para a saúde mental, podendo resultar em depressão, estimular relações obsoletas e piorar a qualidade de vida. Sobretudo, o acesso à pornografia na infância pode gerar consequências irreversíveis, moldando a maneira como o cérebro pondera sobre fatores como excitação e recompensa.
Embora pesquisadores se dividam entre quem afirma que conteúdos dessa natureza estimulam o "conhecimento do próprio corpo" ou não, estudos comprovam que, em grande parte dos casos, o acesso à pornografia não pode ser considerado recreativo, à medida que não se consegue interrompê-lo.
180 Recover
Após 26 anos como pastor, Doyel abandonou o trabalho religioso por causa dos problemas que o vício lhe causou, como a depressão e a infidelidade no casamento. "No programa, nós 'prestamos contas' uns aos outros, revelando o que fizemos ao longo da semana. Há, além disso, uma rede de compartilhamento de mensagens, perguntamos aos outros se eles precisam de ajuda", explica Doyel sobre o 180.
Sentimentos como vergonha e culpa acometem grande parte dos consumidores de pornografia, afirma ele, e isso provoca isolamento social. "Quando fazemos isso, muitas vezes acabamos com vergonha e nos escondemos. No casamento, a pornografia cria um muro entre você e o seu cônjuge, pois você passa a mensagem de que ele não é suficiente", diz.
"A pornografia é uma aparente satisfação, uma forma de não lidar com problemas, e no final faz com que você se sinta envergonhado, isolado e com medo", afirma. "Quando olhamos para essas pessoas como uma espécie de carne que vamos consumir, fazemos delas objetos e ignoramos a sua humanidade, usamos elas para o nosso próprio prazer".
Um dos métodos utilizados pelo grupo é estabelecer barreiras para cada uma das pessoas, e se esses limites forem cruzados, há "penalidades". Contar a verdade em detalhes para algum familiar, por exemplo, é uma das medidas. "Não acreditamos que a participação de alguém por três a seis meses no programa resolverá seus problemas. Alguns de nós temos vícios sexuais há muitos anos. Entendemos que estamos trabalhando para mudar radicalmente nosso estilo de vida", afirma Doyel.
A busca pela abstinência de pornografia mobilizou não apenas John Doyel por meio do 180 Recover, mas iniciativas dessa natureza são vistas em todo o mundo.
"Se você está lutando em secreto, eu imploro, encontre alguém que você confia e conte a verdade", diz Doyel.
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