Foz do Iguaçu Cerca de 47% dos jovens de 15 a 22 anos de Foz do Iguaçu deixam os estudos para trabalhar na atividade informal ligada ao comércio do Paraguai. São rapazes e moças que preferem trocar a sala de aula pela aventura de cruzar a Ponte da Amizade, fronteira entre Brasil e Paraguai, carregando computadores, aparelhos de som, caixas de cigarro e brinquedos. Eles vivem em uma região onde o contrabando acaba sendo o "primeiro emprego".
O índice alarmante foi apontado por uma ampla pesquisa da prefeitura para obter um panorama social da população de Foz do Iguaçu, que ainda está em andamento. O cadastro social começou a ser feito em agosto do ano passado. Até agora já foram entrevistadas 140 mil pessoas de um total de 300 mil habitantes.
Paulo Henrique da Silva, 21 anos, saiu do colégio durante o 2.º ano do ensino médio, aos 16 anos, para levar mercadorias do Paraguai para São Paulo. Na época, a atividade rendia o dobro do salário de R$ 400 que ele ganhava em uma locadora. No começo, o rapaz adquiriu eletrodomésticos e pagava a prestação da casa própria com uma renda razoável para quem não tem o segundo grau completo. Mas hoje, cinco anos depois, com a queda do fluxo de sacoleiros na fronteira, Paulo procura um novo emprego. "Valeu a pena. Não conseguiria os bens que tenho hoje sem essa atividade", diz.
A situação é um pouco diferente para Madalena Alves dos Reis, 18 anos. Ela deixou a escola na 6.ª série porque não conseguiu conciliar o horário de estudo com o "trabalho" de apanhar mercadorias nas lojas de Ciudad del Este e entregá-las aos sacoleiros em Foz do Iguaçu, atividade conhecida como "laranja". "O dinheiro dá para sustentar a casa e pagar as contas", diz. Mesmo assim, hoje, Madalena pensa em fazer o curso supletivo no período noturno e diz que se arrependeu de ter deixado a escola. "Não compensou porque o trabalho no Paraguai vai acabar", diz. Madalena e o marido Jacir Nazaré, 28 anos, falam em até mesmo deixar a cidade caso não tenham mais oportunidades no Paraguai.
A preocupação é pertinente. As constantes operações da Receita Federal (RF) em Foz do Iguaçu estão provocando uma retração no comércio de importados do Paraguai e uma fuga de sacoleiros. De janeiro a maio deste ano, a RF apreendeu US$ 29,9 milhões em mercadorias contrabandeadas, montante que corresponde a quase metade do registrado em todo o ano passado (US$ 62,3 milhões). Esse arrocho fiscal repercutiu na renda da população de Foz do Iguaçu. Segundo levantamento realizado em 2005 pela prefeitura, 67% da população depende direta ou indiretamente da renda obtida junto ao mercado informal do Paraguai.
"A cidade não tem uma atividade econômica estável. Ela vive de ciclos e é muito dependente do comércio paraguaio, refém da sazonalidade e das mudanças no Paraguai e na Argentina", diz o idealizador do cadastro e diretor do Departamento de Informações Institucionais da prefeitura, o matemático Luiz Carlos Kossar.
Segundo ele, Foz não oferece vagas em indústrias, por exemplo, como ocorre em outras cidades. Por isso, os jovens buscam emprego no comércio do Paraguai, seja como vendedor ou laranja. Boa parte deles está ligada a famílias com situação financeira estável. Kossar ainda diz que, por meio da atividade informal, alguns jovens acabam se qualificando, aprendem informática e falam mais de um idioma. Com a retração do comércio paraguaio, Kossar aposta ainda em outra tendência: a evasão do jovem, que pode deixar Foz do Iguaçu para buscar novas oportunidades.