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Libertos do estigma de "incapazes" (até alguns anos, pela lei, essa era a condição dos indígenas brasileiros), chegou a vez dos indíos darem a cara para bater. Cansados do isolamento das reservas indígenas, eles resolveram vir para a cidade grande. Estudaram, trabalharam e aprenderam um pouco da cultura do "homem branco". Quase dez anos depois do início das empreitadas, o resultado é de sucesso para alguns e de muita luta para a maioria.

Um exemplo desses aventureiros são os indíos da Reserva do Cambuí, no bairro Uberaba, na periferia de Curitiba. Eles representam os indíos modernos. São urbanos e até cosmopolitas. Mas engana-se quem pensa que eles abandonaram suas raízes e costumes.

O artesanato tradicional indígena é o que sustenta as cerca de 26 famílias que vivem na aldeia de Curitiba. Quase à beira de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a Comendador Franco, conhecida como Avenida das Torres, vivem em perfeita harmonia com a selva urbana indíos de três etnias diferentes: Guaranis, Caingangues e Xetás.

Muitos ganham o sustento trabalhando em grandes empresas, como shoppings e multinacionais. Mas a maioria se dedica mesmo ao artesanato. E, neste caso, pensar no sustento longe da cidade é difícil. "Longe do centro não teríamos para quem vender nosso artesanato", explica o cacique Kajr (lê-se kaiér).

Kajr, cujo nome português é Carlos Alberto Santos, é um exemplo da epopéia pela qual passaram muitos indíos que vivem no Cambuí. Quando tinha 30 anos, resolveu sair da reserva indígena Manguerinha, no Sul do estado. "A sobrevivência lá estava difícil", conta. Chegando a Curitiba, não foi difícil achar emprego, trabalhou em multinacionais, aprendeu muita coisa e, hoje, quase dez anos depois, não pensa em voltar. "Gosto de viver aqui", resume.

Há cerca de três anos, ele e alguns conhecidos resolveram arrumar um lugar para poder morar juntos e conservar as tradições de seus povos. Foi assim que nasceu o Cambuí. As famílias que vivem agrupadas ainda esperam pela oficialização da área ou até uma provável relocação para outro ponto da cidade, questão que vem sendo estudada pela prefeitura. Mas enquanto isso não acontece, os moradores da aldeia são unânimes em dizer que a idéia de morar todos juntos na cidade vem dando certo.

As crianças da aldeia aprendem a falar o português e a língua de seu povo ao mesmo tempo. Freqüentam a escola do "homem branco", brincam com as crianças não-indígenas e aprendem a cultura do seu povo com seus pais em casa. Assim, conseguem competir em pé de igualdade com o "homem branco", sem perder sua identidade indígena.

Neste "assim caminha a humanidade", a aldeia de Cambuí tem orgulho de apresentar alguns de seus descendentes graduados em curso superior. Três dos oito filhos do vice-cacique da aldeia, Alcino Almeida, 49 anos, dão exemplo. Com um advogado, uma psicóloga e um agrônomo na família, Almeida sorri à toa. "É uma conquista para nós", diz.

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