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 | Pawel Kopczynski/Reuters
| Foto: Pawel Kopczynski/Reuters

Nem mesmo o choro do di­­­­plo­­mata filipino Naderev Sa­­ño, ao discursar sobre as con­­sequências que o aquecimento global já tem causado em seu país, foi capaz de amo­­lecer os corações dos representantes de 190 nações que participaram da 18.ª Conferência de Mudanças Climáticas (COP18), em Doha, no Catar. O evento, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), acabou no sábado sem grandes avanços. A única definição foi a prorrogação do Protocolo de Kyoto até 2020.

Não chega a ser uma vitória, já que apenas 36 países – que juntos são responsáveis por 15% das emissões de gases de efeito estufa – concordaram em estender o tratado. A versão do protocolo que vence no fim deste ano já não contava com a concordância dos principais poluidores do mundo – Estados Unidos e China – e agora não terá também entre os signatários Japão, Rússia, Canadá e Nova Zelândia, que não aceitaram a ausência de metas obrigatórias para os países emergentes.

O próprio país-sede da COP18 foi responsável por parte do fracasso do evento. O Catar é hoje o maior emissor de gases de efeito estufa em proporção ao número de habitantes e não fez nenhum anúncio estabelecendo voluntariamente metas para a redução. Anfitriões, os representantes do país tentaram forçar um acordo, subvertendo as regras de funcionamento das conferências da ONU, que prevê definições por unanimidade. A atitude irritou alguns diplomatas, que abandonaram as salas de debate.

Também a superestrutura oferecida aos participantes acabou virando um ponto negativo. "Foi uma conferência esvaziada, com menos gente que as anteriores. E como o ambiente era demasiadamente grande, a sensação de vazio era maior", comenta o engenheiro-florestal André Ferretti. A ausência de chefes de Estado contribuiu para a impressão de que pouco seria decidido. A crise econômica mundial foi a desculpa mais usada para justificar a falta de comprometimento.

Os países participantes da conferência concordaram em traçar um novo acordo global em 2015. "Estamos caminhando para um fracasso desse fórum. Esse sistema da ONU é lento demais. É preciso encontrar uma forma de encaminhar as discussões de uma forma mais rápida, no ritmo necessário para impedir catástrofes em consequência do aquecimento. Se os governos não estão andando na velocidade esperada, vai ser preciso que a sociedade empurre", comenta Ferretti, que é coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Pro­­­teção à Natureza e participou de oito COPs. Ele saiu de Doha decepcionado. Apesar das altas temperaturas do Catar, foi uma COP "fria".

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