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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Defesa - Dois acusados juram inocência

Apenas dois dos oito detidos na Operação Floresta Negra se defenderam das acusações ontem. Um deles é Luiz César Santos, engenheiro do Instituto Ambiental do Paraná. Ele jogou a culpa na ex-chefe, Elma Romanó, dizendo que ela seria a responsável pelas autorizações irregulares. "Estou há 24 anos no IAP. Eu trabalhava junto com a Elma, uma pessoa difícil, que começou a nos usar para fazer licenciamentos indevidos. Agora estão nos usando de laranja para protegê-la", afirmou.

Além disso, Santos disse que a diretoria do IAP sabia das licenças, contrariando as informações do presidente Victor Hugo Burko e da Polícia Civil. "Os processos foram protocolados no IAP, foram enviados e assinados pela diretoria", afirmou. Para ele, a situação reflete uma briga interna no IAP, que teria começado com atitudes de sua ex-chefe.

O madeireiro Trajano Gomes Fernandes, da empresa G3 Florestal, de Ponta Grossa, também se diz inocente. "Pedi uma autorização em 2003, dentro dos trâmites normais. A documentação saiu e cortamos normalmente. Já passei essas informações, mas estou aqui, preso. Eu não entendo o porquê, uma vez que não obriguei ninguém a assinar a licença, nem paguei propina", afirmou. (JNB)

Ponta Grossa – O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) prendeu oito pessoas em Ponta Grossa, ontem, acusadas de integrar uma quadrilha que teria lucrado R$ 8 milhões com o desmate irregular de araucária em uma área equivalente a 1,5 mil campos de futebol. Entre os envolvidos estão funcionários do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), madeireiros e proprietários rurais. Desde que a investigação foi iniciada, outras 19 pessoas foram detidas por participação no esquema. O corte de araucária, árvore-símbolo do Paraná e que está ameaçada de extinção, é permitido somente se for em área de reflorestamento.

A investigação começou há oito meses e apurou que autorizações irregulares foram concedidas nos últimos três anos. Foram negociadas pelo menos 25 licenças irregulares, com preços entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. Outras 125 autorizações estão sendo investigadas. Os supostos cortes irregulares ocorreram nas cidades de Jaguariaíva, Castro, Ponta Grossa, Ipiranga, Imbituva, Palmeira e São João do Triunfo. Apenas um dos nove mandados de prisão não foi cumprido ontem – a ex-chefe regional do IAP em Ponta Grossa, Elma Romanó, não foi encontrada pela polícia.

O presidente do IAP, Victor Hugo Burko, conta que as suspeitas surgiram a partir de denúncias. "Começamos a ouvir informações desencontradas, até que fizemos um vôo e percebemos um desmate grande", diz. De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, a investigação interna não chegou a conclusões precisas e foi necessário acionar o Cope. A expectativa é de que a partir das prisões e da apreensão de documentos e computadores, mais dados sobre o esquema sejam revelados.

A polícia informou que os proprietários das 19 áreas investigadas pela polícia lucravam cerca de R$ 50 por m3 de madeira. Além de vender as toras, os fazendeiros contavam com a valorização da propriedade, que passava a ter mais espaço para o plantio. Já os madeireiros negociavam as araucárias por R$ 200 o m3. "A quadrilha agia com suporte de funcionários públicos", declarou o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari. Há indícios de participação de policiais militares da Força Verde, que já foram afastados e estão sendo investigados.

O IAP detectou que algumas autorizações apresentadas como legítimas eram irregulares e ilegais. O engenheiro florestal Adair Palace Júnior é acusado de ser o responsável por elaborar os projetos com dados errados. No IAP, o engenheiro Luiz César Santos autorizaria os pedidos, com a ajuda do técnico ambiental Samuel de Moura. Os outros cinco presos ontem são os madeireiros Wilde Wanderlei Gomes do Valle, Trajano Gomes Fernandes, Dirceu Lopes Silveira, Laerte Ferreira e Carlos Galetto. Os acusados ainda devem ser multados. O valor das autuações pode passar de R$ 14 milhões.

Para não precisar de autorização da câmara técnica, formada por três engenheiros da sede do IAP, as áreas a serem desmatadas eram fracionadas em glebas de menos de 10 hectares. Assim, a licença de corte poderia ser dada pelo próprio escritório regional. A polícia estima que pelo menos 36 mil pinheiros tenham sido cortados ilegalmente. O presidente da organização não-governamental (ONG) Planeta Azul, Edílson Gorte, reconhece a ligação de um dos detidos com a entidade. Ele alega que o técnico ambiental Samuel de Moura trabalhava num projeto de revitalização do Rio Tibagi e que foi demitido há três meses por sugestão da chefe regional do IAP. Ela teria afirmado que Moura se envolveu com atividades irregulares.

O secretário estadual de Meio Ambiente destaca que nos últimos quatro anos, oito servidores do IAP foram exonerados a partir do controle interno. Para evitar que casos como o revelado ontem se repitam, o governo estadual começou a monitorar por satélite o desmatamento irregular. Um programa de computador, com capacidade para diferenciar desmates a partir de 900 m2, irá sobrepor mapas a cada dois meses, definindo locais que precisam ser fiscalizados.

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