O principal desafio do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), é copiar o modelo adotado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc). "É a alma disso tudo", sintetiza. Como único governador eleito pelo Democratas, ele quer o apoio de Cassio Taniguchi e Jaime Lerner para implantar o que chama de "pensamento liberal clássico".
Gazeta do Povo O que Curitiba tem a ensinar a Brasília?
José Roberto Arruda Em termos de política urbana, de planejamento, Curitiba é o melhor modelo no Brasil. Fui recentemente a Bogotá (Colômbia) e vi o Transmilênio (sistema de ônibus com canaletas exclusivas). E o que é o Transmilênio, que todo mundo tanto fala? Nada mais que a cópia que o sistema adotado em Curitiba. Acho que a cidade conseguiu mostrar para o país inteiro que é necessário ter planejamento. O Ippuc é a alma disso tudo. É a experiência mais bem sucedida de junção de formação acadêmica, com experiência profissional, com sentimento de ser cidade. É claro que Brasília, por ser capital do país, não poderia ficar toda vaidosa... Tinha de ter a humildade de buscar em Curitiba esse exemplo. No meu caso, ainda mais, pela afinidade política que tenho com o Cassio (Taniguchi) e a possibilidade que tivemos de trazê-lo pessoalmente para dar a sua contribuição a Brasília.
O principal modelo a ser copiado é o do transporte?
Eu diria que o primeiro é o Ippuc. Pegamos uma empresa pública chamada Codeplan (Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central) e estamos tentando deixá-la nos moldes do Ippuc. A segunda é a do transporte. A integração, a economia de um sistema de veículo leve sobre pneus, que queremos implantar aqui no Eixo Sul, que liga o Gama e Santa Maria ao Plano Piloto. A terceira é a visão que o Jaime Lerner chama de acupunturista, que vai nos pontos nodais do planejamento urbano e tenta resolvê-lo ponto a ponto. O Lerner, que vai ser nosso consultor, vai implantar essa idéia. Brasília precisa disso porque cresceu muito rapidamente e os problemas foram se integrando.
Como vai ser essa consultoria do Lerner?
Queremos que ele seja o nosso acupunturista, que faça projetos específicos, como parte da Asa Norte e a revitalização de eixos importantes. Queremos que trabalhe pontualmente em questões que ele pode dar uma contribuição importante, como arquiteto, urbanista e como administrador público que é.
Brasília fez aniversário. O que o Distrito Federal teve a comemorar?
A grande comemoração é por ter sido consolidada como capital do país. E, como capital, desempenhou o seu papel de interiorizar o desenvolvimento nacional. Os últimos 50 anos mudaram o mapa geo-econômico brasileiro. Inclusive o mapa demográfico. Foi Brasília que fez o Brasil conhecer a Amazônia, o pantanal, o cerrado. E o país não é mais apenas litorâneo, como era antes do Juscelino (Kubitschek). Temos excelente qualidade de vida, dentro de um conceito urbano revolucionário. Saímos das ruas para um conceito de quadras. Brasília é moderna, no seu projeto urbanístico na forma arquitetônica. Mas, sobretudo, na sua qualidade de vida.
E o que se lamenta?
Lamenta-se um crescimento desordenado nos últimos 20 anos, a ocupação indisciplinada do solo, que são correções de rumo que a gente tem de fazer.
O que os Democratas querem mostrar nesse começo de governo?
Acho que estamos tentando, na prática, fazer com que o pensamento liberal clássico seja tentado. Diminuímos o tamanho do Estado, reduzimos de 36 para 16 secretarias. Reduzimos, de 18 mil para 7 mil cargos em comissão. Entregamos 140 prédios alugados, fizemos uma economia gigante nesses primeiros meses de governo. Entendemos que o governo deve ser enxuto, gastar menos no seu custeio e mais nos investimentos. Não é o governo que tem que ser o motor do crescimento. Ele tem que ser o regulador, que cria o momento propício para os investimentos privados. É isso que estamos querendo fazer.
Com essa mudança de nome do PFL para Democratas, o senhor pretende ser o modelo de administração do partido?
A mudança de nome é conseqüência de uma mudança estrutural do partido. Ele era um partido nordestino, dos grotões e que passou a ser um partido do centro-sul do Brasil. Hoje governamos a capital do Rio de Janeiro, de São Paulo e a capital do Brasil. Todos nós temos uma possibilidade de mostrar uma forma nova de governar. (AG)