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Lista de falecimentos - 10/10/2015

Corina, a santa popular dos Campos Gerais

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(Foto: Divulgação /)

Em meio às cores escuras e sóbrias do Cemitério Municipal São José, em Ponta Grossa, um túmulo cor-de-rosa se destaca. No o local onde está enterrada Corina Antonieta Pereira Portugal tem quase cem placas de agradecimentos e muitas flores. A devoção popular à carioca radicada nos Campos Gerais já dura 126 anos. Ela foi assassinada pelo marido, em 1889, acusada de uma falsa traição. Corina virou símbolo para mulheres que tinham problemas no casamento. Com o tempo, os tipos de pedidos se ampliaram.

A história de Corina Portugal se mistura com conflitos políticos da região. Nascida em 17 de janeiro de 1869, no Rio de Janeiro, ela veio para Ponta Grossa depois de se casar com o farmacêutico Alfredo Marques de Campos, em 1885. O marido descontava em Corina suas frustrações potencializadas pela dependencia do álcool e dos jogos. Na noite de 26 de abril de 1889, Campos assassinou a esposa com 32 golpes de punhal.

Mas a comoção local com a história de Corina só ocorreu tempos depois. Vicente Machado, na época deputado provincial e advogado de defesa de Campos, teria inventado a traição para livrá-lo da condenação. O amante seria o médico João de Menezes Dória – também deputado provincial e adversário político de Machado. À época, a opinião pública apoiou o criminoso considerando que ele agiu para defender sua honra. Dória então foi viver Curitiba, de onde passou a escrever sobre o caso. Contou com o apoio do pai de Corina, que enviou cartas escritas pela filha. Nos documentos, ela relatava os maus-tratos e as ameaças recebidas do marido. Mesmo com as novas provas, o farmacêutico acabou absolvido em todos os tribunais. Mesma sorte não teve com a população, que dessa vez percebeu a falsidade em torno do suposto adultério. Foi então que Corina passou a ganhar seus primeiros admiradores e o viúvo da jovem cometeu suicídio. Deu um tiro na cabeça, em setembro de 1895, em um hotel do Rio de Janeiro. Deixou um recado em um pedaço de jornal: “morro por estar farto de sofrer – Alfredo Marques de Campos”.

Hoje, o túmulo de Corina é o mais visitado no Cemitério São José. O zelador Antônio Djalma Oliveira conta que os devotos fazem visitas principalmente nas segundas-feiras e nos fins de semana. “Tem gente que faz promessa de pintar o túmulo se for atendido”, conta Oliveira. A última foi no ano passado.

História para ler e ouvir

Mais de um século depois da morte de Corina, o advogado ponta-grossense Josué Corrêa Fernandes publicou, em 1999, o livro Corina Portugal – história de sangue e luz. “Não tinha quem levasse o caixão no enterro dela, pois estavam todos do lado do marido”, afirma. No processo de produção do livro, Fernandes também registrou os pedidos de devotos deixados em bilhetes no túmulo de Corina. “Eram mulheres com problemas com o marido, pedindo para a filha largar do namorado, pedidos de emprego e para passar no vestibular”.

Para ele, uma das principais marcas do caso é o atrito pessoal entre Vicente Machado e João de Menezes Dória. “Percebi na pesquisa que ela foi deixada de lado e os dois ficaram brigando por causa de política”, diz. A segunda edição do livro foi publicada em 2007. Em junho deste ano, Fernandes passou a publicar trechos do livro no Facebook.

A memória de Corina também já ganhou cordel, música e uma radionovela transmitida por uma emissora local, baseada no livro de Fernandes e adaptada pela educadora Lucélia Clarindo. No mês passado, um grupo de contadores de história apresentou o Cordel de Corina Portugal, do escritor ponta-grossense Eno Theodoro Wanke.

Memória em nome de rua

Próximo ao aniversário de 126 anos da morte de Corina, em abril desse ano, um grupo de ponta-grossenses sugeriu que a Avenida Vicente Machado, no centro da cidade, passasse a se chamar Avenida Corina Portugal. Eles conversam com vereadores sobre o tema e chegaram a colar placas de papelão com o nome dela sobre as placas da via.

Lista de falecimentos - 10/10/2015

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