O fato de ter havido ou não um disparo antes da invasão dos policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar ao apartamento onde Lindemberg Alves, de 22 anos, mantinha duas reféns na última sexta-feira (17), em Santo André, é considerado irrelevante tanto pelo coronel Eliseu Leite de Moraes como pelo promotor Antônio Nobre Folgado.
O primeiro irá presidir o inquérito policial militar (IPM) que investigará a operação, e o segundo, deverá apresentar a denúncia contra o acusado ao término do inquérito conduzido pela Polícia Civil de Santo André, no ABC.
Nayara Silva, de 15 anos, declarou em depoimento à polícia nesta quarta-feira (22) que não houve um tiro no apartamento onde era mantida refém por Lindemberg Alves, minutos antes da invasão, de acordo com o delegado seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos.
Na ação, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, ex-namorada de Lindemberg, e Nayara foram baleadas. Eloá teve a morte cerebral decretada na noite de sábado (18) pelos médicos que a atenderam no Centro Hospitalar Santo André.
Para o coronel Eliseu, o "tiro por si só não é o fator primordial" para avaliar se houve erro ou acerto na conduta dos policiais do Gate. "Nós, por enquanto, não vemos nenhuma falha. A finalidade do inquérito é dar transparência para que todos saibam exatamente o que aconteceu", disse.
Segundo o coronel, há a possibilidade de Nayara ter se confundido. "Tudo indica que o Lindemberg deu três tiros depois da explosão, mas ela disse que ouviu apenas dois. Veja como há uma diferença nos depoimentos", acrescentou. Ele não quis antecipar qualquer possibilidade de sanção aos policiais que atuaram no caso. "Se for comprovado qualquer erro, pensaremos nas medidas a serem adotadas", disse. O IPM deve durar 30 dias. Se for necessário, pode se estender por mais 90.
O promotor Antônio Nobre Folgado, que acompanhou o depoimento de Nayara nesta quarta, disse, por sua vez, que o fato do tiro ter sido dado antes ou não "não tem a menor relevância para o inquérito". "A ação da polícia foge do meu âmbito. Se teve uma conduta correta ou não, cabe ao inquérito policial militar [IPM] esclarecer", disse.
De acordo com o promotor, Lindemberg responderá criminalmente por uma série de crimes. "Pelo que eu já tenho, o crime mais forte é a morte de Eloá. Por este crime, ele responderá por homicídio duplamente qualificado, os qualificadores sendo motivo torpe e sem possibilidade de defesa. Além disso, responderá por tentativa de homicídio qualificado da Nayara e também de um sargento da PM. E ainda quatro processos por cárcere privado e por crime de disparo de arma de fogo. Enfim, são vários crimes pelos quais ele será denunciado", disse.
Se condenado no final do processo, Lindemberg poderá pegar uma pena mínima de 25 anos de prisão, na estimativa do promotor. O inquérito policial deverá ser concluído em 10 dias; ou seja, até o início da próxima semana, segundo o promotor. A partir daí, ele tem um prazo de cinco dias para elaborar e oferecer a denúncia contra o acusado. "Já tenho a convicção [dos crimes], mas alguns detalhes desta convicção podem ser alterados conforme o término do inquérito policial", finalizou.
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