Em meio à revolta de parentes e amigos, o adolescente Abraão da Silva Maximiliano, de 15 anos, morto a tiros por soldados do Exército no Complexo do Alemão, foi enterrado nesta quarta-feira (28) no Cemitério de Irajá, na zona norte. O subsecretário de Direitos Humanos, Antônio Carlos Biscaia, esteve no cemitério e ofereceu à família a possibilidade de inclusão no programa de proteção a testemunhas.
A versão da Força de Pacificação é de que Abraão estava entre criminosos que dispararam contra os soldados. A família diz que o garoto jogava futebol após o toque de recolher e que os militares agiram com truculência. Nenhuma arma foi apreendida. Oito militares foram afastados das funções durante as investigações.
"O crime do meu irmão foi ficar na rua até mais tarde. A gente não tem mais liberdade para nada", disse Jéssica da Silva Maximiliano, de 20 anos, criticando a atuação da Força de Pacificação no Alemão. Ela ainda não decidiu se aceitará a proteção oferecida pela Secretaria de Direitos Humanos. "Não somos bandidos para viver escondidos".
A família relatou ter sofrido ameaças e disse que os soldados limparam o local em que o adolescente foi baleado. Parentes de Abraão recolheram cápsulas e projéteis para levar à delegacia. "Queremos perícia", afirmou Eliane Lopes, tia do rapaz.
Abraão morreu três dias depois de completar 15 anos. Ficou órfão de pai aos 5 anos. A mãe morreu em 2009, de pneumonia. Duas irmãs mais velhas ficaram responsáveis por ele, pelo irmão de 18 anos, que tem problemas mentais, e pela caçula, de 11. Abraão não estudava e fazia bicos numa feira livre. Integrantes da Igreja Evangélica Nova Vida disseram que desde os 11 anos ele era voluntário num programa de atendimento a moradores de rua.
O coronel Malbatan Leal, chefe de comunicação social da Força de Pacificação, disse, em entrevista ao RJTV, que os soldados reagiram aos tiros de um grupo de traficantes. Eles teriam feito disparos para o alto e usado arma não letal. Por fim, revidaram.
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