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Perda

Corpo de dom Eugenio Sales será enterrado nesta quarta-feira no Rio

O corpo do cardeal foi recebido com uma salva de palmas pelos fiéis | Sandro Voz /Folhapress
O corpo do cardeal foi recebido com uma salva de palmas pelos fiéis (Foto: Sandro Voz /Folhapress)
Cardeal Dom Eugenio Sales morre aos 91 anos no Rio de Janeiro |

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Cardeal Dom Eugenio Sales morre aos 91 anos no Rio de Janeiro

O corpo do cardeal dom Eugenio de Araújo Sales será enterrado às 15 horas desta quarta-feira (11), Catedral de São Sebastião, no centro do Rio de Janeiro. Sales, de 91 anos, morreu na noite de segunda-feira (9). Um clima de serenidade marcou, no início da tarde de terça, a chegada do corpo ao local, onde foi recebido com uma salva de palmas pelos fiéis. Muitos chegaram em caravanas do interior e de outros estados.

Na entrada da catedral, o caixão foi abençoado pelo arcebispo da arquidiocese do Rio, dom Orani Tempesta. "Ele partiu serenamente para a casa do Pai", disse o arcebispo. A Companhia de Músicos da Polícia Militar tocou o Hino Nacional e a Marcha Pontifícia, o Hino do Vaticano. Além de autoridades religiosas, estão presentes no velório o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho (PMDB).

Morte

Dom Eugenio de Araujo Sales morreu, na noite de segunda na Residência Assunção, onde morava, na Estrada do Sumaré, na zona norte do Rio. Segundo a Arquidiocese, o mais antigo cardeal da Igreja Católica morreu por volta das 23 horas por infarto agudo do miocárdio.

Por volta das 5h da manhã, o corpo deixou a Residência Assunção, onde estavam reunidas cerca de 15 pessoas entre padres, freiras e funcionários da casa, e seguiu para o bairro de Inhaúma, onde foi embalsamado. O enterro ocorrerá após a chegada do bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Karl Romer, que está em Roma, na Itália. O irmão de Dom Eugenio, Dom Heitor de Araujo Sales, arcebispo emérito de Natal, no Rio Grande do Norte, está na Suíça e não conseguiu passagem. O religioso é aguardado para a missa de sétimo dia.

A Arquidiocese informou que, nos últimos dias, a rotina de Dom Eugênio, que não possuía nenhuma enfermidade grave, limitava-se entre o quarto e no gabinete, onde lia jornais e assistia à TV. Natural de Acari, no Rio Grande do Norte, Dom Eugênio chegou a ter o nome cogitado entre os candidatos a Papa, depois da morte de João Paulo I.

Segundo cálculos da Arquidiocese, Dom Eugenio faria 69 anos de sacerdócio, 58 de episcopado, 43 de cardinalato, em seus quase 92 anos de vida. Ele sagrou 22 bispos e ordenou 215 sacerdotes.

Três dias de luto

Em nota divulgada na madrugada desta terça-feira, o governador do Rio, Sérgio Cabral, lamenta a morte de Dom Eugenio Sales e decreta luto oficial de três dias no estado. "Dom Eugenio Sales era amado pelo povo do Rio de Janeiro. Nas últimas décadas, a sua liderança religiosa foi a mais importante do nosso Estado. Vamos decretar três dias de luto", afirma Cabral.

O prefeito Eduardo Paes também decretou luto de três dias na cidade. Em nota, ele disse que Dom Eugenio "zelou por nossa cidade durante décadas. Grande homem de Deus, ele será sempre lembrado por sua sabedoria, a força de seus ensinamentos, a perspicácia com que comunicava e defendia sua fé e o exemplo de caridade nos anos mais difíceis da história brasileira".

As homenagens a Dom Eugenio

Além de ter decretado luto oficial de três dias, Cabral disse por meio de nota que Dom Eugenio Sales era amado pelo povo do Rio de Janeiro e que, "nas últimas décadas, a sua liderança religiosa foi a mais importante do nosso estado". O prefeito Eduardo Paes também lamentou a morte por meio de nota, dizendo que "o grande homem de Deus será sempre lembrado por sua sabedoria, força de seus ensinamentos, perspicácia com que comunicava e defendia sua fé e o exemplo de caridade nos anos mais difíceis da história brasileira".

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, também comunicou a morte de Dom Eugenio, por volta das 0h40m, por meio do Twitter: "Nosso querido Cardeal Dom Eugênio faleceu. Pedimos orações pelo seu descanso eterno!" O religioso também lamentou a morte por meio de nota: "É uma tristeza anunciar essa notícia nesse momento. Mas ele era um homem de Deus e serviu a Jesus Cristo. Sempre esteve presente nos momentos importantes do Brasil principalmente na questão dos refugiados e na defesa dos perseguidos e teve presença marcante na igreja do Brasil e do Vaticano. Trabalhou em educação de base e na evangelização nas arquidioceses do Rio, Natal e Bahia. Viveu quase 92 anos principalmente pelo sua presença significativa na igraja e no Brasil. Ele foi alguém que sem dúvida soube viver dando continuidade aos ensinamentos."

Já a Arquidiocese, ao informar a morte do cardeal, lembrou que, fundamentado na Carta de São Paulo aos Coríntios, o lema do religioso foi: "Impendam et Superimpendar" (2Cor 12,15: "De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós").

Presidente do Tribunal de Contas do Município (TCM), Thiers Montebello, por meio de mensagem divulgada também durante a madrugada, disse que o cardeal "era uma pessoa muito querida, especial como religioso, deixou uma marca muito significativa como o chefe da Igreja Católica do Rio de Janeiro. Foi uma autoridade religiosa que acolheu perseguidos políticos, mas sem deixar de ser respeitado pelo poder público. Foi uma perda significativa para a Igreja e o povo".

Uma história dedicada à Igreja

Nascido em 8 de novembro de 1920, em Acari (RN), o cardeal teve o nome entre os candidatos a Papa depois da morte de João Paulo I. Conhecido como o homem do Vaticano no Brasil durante os 30 anos em que esteve à frente da Arquidiocese do Rio, o cardeal continuou sendo querido pelo Papa, mesmo afastado das funções eclesiásticas no estado fazia quase uma década. O arcebispo emérito do Rio chegou a ser surpreendido, às vésperas de completar 90 anos, por uma carta de felicitações assinada por Bento XVI. Para Dom Eugenio, o documento não foi sinal de prestígio, mas o reconhecimento de uma vida dedicada à fé.

Em 67 anos de vida dedicada à Igreja, o cardeal foi rotulado tanto como líder conservador quanto "bispo vermelho", por ter, no início do sacerdócio, ajudado a criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande do Norte. Um capítulo importante da vida de Dom Eugenio remonta à ditadura, quando atuou de maneira silenciosa, abrigando no Rio mais de quatro mil pessoas perseguidas pelos regimes militares do Cone Sul, entre 1976 e 1982, especialmente argentinos. A história da participação sem alarde do arcebispo foi contada, 30 anos depois, pelos principais meios de comunicação. Discretamente, o cardeal cultivava delicadas relações com os militares e ajudou a salvar vidas.

Para dar conta de tanto pedidos, autorizou o aluguel de quartos e depois apartamentos. A ajuda incluía dinheiro para gastos pessoais, assistência médica e auxílio jurídico. Em entrevista ao GLOBO em 2008, Dom Eugenio contou por que agiu nos bastidores: "Se eu anunciasse o que estava fazendo, não tinha chance. Muitos não concordavam, mas eu preferia dialogar e salvar", disse. "Eu não tinha nem nunca tive interesse em divulgar nada disso. Queria que as coisas funcionassem, e o caminho naquele momento era esse, o caminho de não pisar no pé (do governo)."

Além de ter ser considerado um bom articulador e um defensor incansável da doutrina católica, Dom Eugenio era citado como grande empreendedor. Ao assumir a Arquidiocese, na década de 70, mandou construir nos fundos do Palácio São Joaquim um prédio de dez andares para reunir num só lugar serviços da Igreja espalhados pela cidade. Também criou dezenas de pastorais, entre elas a Pastoral Penal, a das Favelas e a do Menor.

Dom Eugenio passou parte da infância no sertão nordestino. A vocação para o sacerdócio surgiu no início dos anos 30, após ser matriculado em colégio marista de Natal. Antes de optar pela Igreja, pensou em ser engenheiro agrônomo. Foi ordenado em 21 de novembro de 1943.

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