O corpo da menina Adrielly dos Santos Vieira, de 10 anos, vítima de uma bala perdida na noite de Natal, foi enterrado por volta das 16h20 deste sábado (5), no cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro.
Adrielly esperou oito horas para ser operada no Hospital Municipal Salgado Filho pois não havia um neurocirurgião de plantão.
No último domingo (30), a morte cerebral da menina foi confirmada, mas ela ainda respirou com a ajuda de aparelhos até a sexta-feira (4), quando morreu no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. O caso provocou polêmica na cidade e motivou uma medida da prefeitura para controle eletrônico.
Em depoimento à polícia, o médico Adão Crespo dos Santos afirmou que há um mês não comparecia os plantões no Salgado Filho porque estava insatisfeitos com a escala. Ele foi afastado.
Segundo a família, Adrielly brincava na rua logo após receber como presente uma boneca quando caiu no chão com a cabeça ferida. Eles só souberam se tratar de um tiro no hospital.
Ontem, o chefe da neurocirurgia do hospital Salgado Filho, José Renato Paixão, prestou depoimento na 23º DP (Méier, zona norte do Rio) e disse que não estava trabalhando no dia em que a menina deu entrada no hospital e atribuiu a responsabilidade pela falta de atendimento ao plantonista que faltou ao trabalho.
Paixão afirmou que recebeu, de fato, uma ligação do plantonista Adão Crespo, dizendo que não iria ao plantão, mas disse que não poderia trocar a escala.
"A responsabilidade é de quem está escalado", afirmou. O médico disse ainda que teve que fazer o plantão do dia 31 no lugar de Adão, depois da determinação da Secretaria de Saúde.
O delegado responsável pelo caso, Luiz Archimedes, também ouviu a pediatra Lúcia Portela, que atendeu a menina no Salgado Filho quando ela chegou baleada no dia 25. Lúcia não quis falar com a imprensa, mas o advogado que a acompanhou, Marivaldo Sena, afirmou que a médica fez o primeiro atendimento a Adrielly e pediu a transferência para outro hospital.
Além de Lúcia, também compareceram à delegacia as médicas Eneida Reis e Maria Estela Dias que igualmente participaram do atendimento no hospital. Elas saíram sem falar com a imprensa. O chefe do plantão do hospital no dia 25 de dezembro, Ênio Eduardo Lopes, e o médico que operou Adrielly, Mário La Peña, devem ser ouvidos na próxima segunda-feira (7).
O delegado responsável pelo caso disse que ainda é preciso esclarecer o motivo pelo qual a criança não foi transferida quando foi constatada a falta de um neurocirurgião.