O corpo do menino Juan Moraes, de 11 anos, foi enterrado no final da tarde desta quinta-feira (7) no Cemitério municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O corpo estava desaparecido desde 20 de junho, depois de uma operação policial na Favela Danon, em Nova Iguaçu.
Os alunos da escola onde ele estudava, em Nova Iguaçu, prestaram homenagens ao colega nesta quinta-feira (7). No portão do colégio, um cartaz expressava a dor de todos os estudantes. As homenagens continuaram na sala do menino que cursava o quarto ano do ensino fundamental.
Reconstituição
De acordo com o delegado da Divisão de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense, Ricardo Barbosa, uma reconstituição está marcada para sexta-feira (8) e contará com a participação dos quatro policiais militares do 20º BPM (Mesquita) afastados na quarta-feira (6) pelo comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, e que participaram da operação na favela.
A polícia afirmou ainda que já tem o resultado da perícia das armas dos policiais que atuaram no confronto, assim como os dados do GPS das cinco viaturas que estiveram na comunidade Danon, mas não quis adiantar essas informações para não atrapalhar as investigações.
Em entrevista coletiva na quarta, a chefe de polícia Martha Rocha informou que o corpo de Juan foi encontrado na quinta-feira passada (30), no Rio Botas, em Belford Roxo, na Baixada. O local onde o corpo estava fica a cerca 18 km do local onde o menino foi visto pela última vez. Inicialmente, a perícia disse que o corpo encontrado à beira do rio era de uma menina. Depois foram feitos exames de DNA, que comprovaram que o corpo era de Juan.
Os policiais civis responsáveis pelas investigações acreditam que logo depois da reconstituiçao possam ter provas para incriminar ou não os quatro policiais do 20º BPM (Mesquita).
"Mesmo que, muitas vezes, a gente erre, como a polícia errou, essas pessoas vão ser responsabilizadas por esse erro, e se, por ventura, esses policiais tiverem qualquer tipo de participação neste fato horrendo, eles vão ser punidos exemplarmente", afirmou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame.
Pai fica chocado com a notícia
Em entrevista ao G1, o pai do menino, Alexandre da Silva Neves, disse que ficou chocado após receber da polícia a confirmação da morte do menino. "Antes de enterrar, queria fazer a perícia no Juan", completou, acrescentando que recebeu a notícia no início da tarde de quarta-feira (6), por telefone.
A mãe e o irmão de Juan, Wesley, de 14 anos, que estão no programa de proteção à testemunha, vêm ao Rio para acompanhar o sepultamento da criança, ainda segundo Neves.
Dois exames de DNA
A confirmação da morte veio através de dois exames de DNA e o material coletado para a identificação do corpo de Juan veio da tira da sandália usada pelo menino quando ele desapareceu, de acordo com o diretor de polícia técnica, Sérgio Henriques.
Ainda de acordo com Henriques, no estado de decomposição em que estava o corpo encontrado era difícil atestar o sexo da criança sem o teste de DNA.
Erro de perita
Segundo Martha Rocha, serão instaurados dois procedimentos: um para analisar o laudo e o parecer emitido pela perita, já que o serviço de antropologia forense do (Instituto) Médico Legal e o exame de DNA mostraram resultados diferentes.
O outro procedimento, segundo a chefe de polícia, é para "avaliar as providências que foram adotadas ou que deveriam ter sido adotadas pela 56ª DP (Comendador Soares), uma vez que no exame procedido no local onde se deu o confronto entre policiais militares e as pessoas por eles apontadas foi encontrado um chinelo. E esse chinelo, na coleta de material genético também positivou como sendo do menino Juan", completou.
Delegado titular da 56ª DP é afastado
Martha Rocha também afirmou que o delegado Claudio Nascimento de Souza não é mais o titular da 56ª DP e que seu substituto será indicado nos próximos dias. O desaparecimento do menino Juan começou a ser investigado pela 56ª DP, mas depois o caso foi transferido para a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense.
Dois baleados no tiroteio
Juan, o irmão dele, Wesley, de 14 anos, e o jovem Wanderson dos Santos de Assis, de 19, foram baleados durante a troca de tiros. Juan vinha da casa de um amigo com o irmão quando ocorreu o confronto. A caminho de casa, os meninos precisavam cruzar um caminho entre os muros altos de duas casas, quando foram atingidos.
Em depoimento, Wesley disse que tomou um tiro no pé e também viu o irmão caído, ensanguentado. Ele contou que tentou ajudá-lo, mas recebeu outro tiro, dessa vez no ombro. Então, ele se arrastou para fora do beco. Foi o último momento em que Juan foi visto com vida.
Os PMs disseram que foram ao local por causa de uma denúncia da presença de traficantes feita pelo serviço 190. A chamada registrada na central é de 20h54, portanto, depois de os três já terem sido baleados. A gravação não foi divulgada pela polícia.
Registro na delegacia
No registro de ocorrência feito na delegacia, à 1h44, os PMs apresentaram uma arma e drogas como sendo de Wanderson e apontaram Wesley como menor infrator. Mas, 45 minutos depois, mudaram o depoimento: Wesley passou de infrator a testemunha. Wanderson ficou cinco dias algemado à cama, até ter a prisão relaxada pelo juiz.