
O melhor lugar do mundo deve ser aquele onde você passa a maior parte da sua vida, ao lado da comunidade que escolheu para viver. Com o propósito de que isso se concretize, o projeto Rede de Desenvolvimento Local procura mobilizar todo o Paraná para realizar sonhos em busca de uma vida melhor para a população. Os números são promissores. Desde 2008, o programa da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) já chegou a cerca de 3 milhões de pessoas em 69 dos 75 bairros de Curitiba, dez municípios da região metropolitana e nas cidades de Londrina, Ponta Grossa, Maringá, Guarapuava, Campo Mourão e Paranavaí.Desenhado a partir de discussões sobre o papel das redes sociais, o projeto adota o modelo de autogestão e autoparticipação. É a própria população que vai atrás de soluções para problemas identificados. A capacitação é feita em reuniões com profissionais de várias áreas. Para o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, ações como essa têm mais condições de atender aos anseios das comunidades do que o Estado. O que não significa, na opinião dele, que seja pela falta de capacidade econômica, mas funcional. "A mudança é significativa, mas ninguém faz milagres. O costume da colaboração ajuda no processo democrático. E quando ele se instala, é difícil haver reversões", afirma.
O início
Com o intuito de melhorar as condições de vida de famílias catadoras de lixo reciclável do Jardim Santos Andrade, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, a professora Doraci Terezinha Bertassoni Tokarski foi a primeira a aderir à Rede de Desenvolvimento. Apenas uma reunião bastou para indicar o caminho para melhorar as condições de uma região carente, com ocupações à beira de um rio.
Uma associação de moradores foi montada e as famílias começaram a ser atendidas por uma assistente social. Num próximo passo, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente organizou ações de limpeza do rio, plantio de árvores e ofertou câmbio verde à comunidade a troca de lixo por alimentos. "Se não fosse a motivação recebida, eu estaria no meu cantinho e eles no deles, sem imaginar que poderiam ser responsáveis por tantas mudanças", diz a professora.
O engenheiro civil e participante da Rede no bairro São Braz, Hirotoshi Taminato, lembra que a experiência nessa comunidade deu início a três projetos-piloto para desenvolver o bairro. O "Projeto Capoeira" ofereceu aulas gratuitas para 60 alunos das escolas da região. O "Dicas para o primeiro emprego" orientou jovens sobre como entrar no mercado de trabalho; e o "Preservar é preciso" difundiu ideias de preservação do meio ambiente e dos aspectos culturais da comunidade. "Conseguimos despertar as lideranças para olharem para o seu bairro", acredita Taminato.
No programa desde janeiro, os moradores do bairro Mossunguê, em Curitiba, também veem a experiência como positiva. Nos próximos seis meses, o presidente da associação de moradores, Ivo Antônio Rodrigues, acredita que será possível fazer a cobertura da capela do bairro e dar nome a uma rua de uma área de ocupação. Para a próxima década, os sonhos são muitos. Entre eles, lembra Rodrigues, estão as instalações de uma escola de ensino médio e uma creche na região, alé m de revitalizações viárias.
Região metropolitana
A dona de casa Maria Auxiliadora Rocha, 55 anos, também se diz engajada. Moradora do bairro Boneca do Iguaçu, em São José dos Pinhais, ela percebe que o ingresso na Rede trouxe benefícios para a região. Há dois anos, Maria fundou o Grupo Noé para montar uma associação no bairro e trazer melhorias para a comunidade. Porém, a ideia se mostrou mais promissora a partir da adesão à rede. Atualmente, o projeto de transformar uma rua do bairro em modelo urbano é o que está mais próximo de acontecer. No futuro, uma usina de reciclagem deverá garantir a geração de renda para o local. "Temos que ter a visão de que nossa casa não tem portão, não tem fronteiras. Tudo o que acontece na nossa comunidade afeta a cada um dos moradores."
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Interatividade
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