Durante o primeiro semestre deste ano, 23 condutores de motos morreram em acidentes de trânsito em Curitiba. Este número representa 76% do total de motoqueiros mortos nas ruas da capital nos 12 meses de 2006. "Se fizermos uma projeção de dados, vamos ver que o previsto para 2007 é pelo menos 50% maior que no ano passado", afirma a médica Mônica Fiuza Parolin, coordenadora de Planejamento, Controle e Avaliação do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergências (Siate), do Corpo de Bombeiros.
A estatística se refere apenas aos motocilistas que morreram no local do acidente, o que indica que o total de vítimas deve ser ainda maior. Até junho passado, o Siate encaminhou para hospitais 121 motociclistas acidentados com lesões graves, como fraturas expostas, amputação e esmagamento de membros. "Essas pessoas têm mais chance de evoluir para o óbito ou ficar com seqüelas graves permanentes", explica Mônica. Ela recorda que em um de seus últimos plantões, uma quarta-feira, das 15 primeiras ocorrências que atendeu, 11 eram acidentes com moto. "Eles (motociclistas) ficam mais expostos aos ferimentos", diz.
Frota
Hoje, segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), cerca de 98 mil motos circulam pelas ruas da capital. Aproximadamente 20 mil são de motoboys, estima o Sintramotos, entidade que representa a categoria. Uma pesquisa recente do Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo apontou que os motoboys são considerados por 56,2% dos curitibanos como o pior tipo de condutor na cidade. "A maior parte aproveita a facilidade da moto para se colocar em qualquer espaço e em qualquer momento. Acaba resultando em riscos e manobras impensáveis", avalia a psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná.
Freqüentemente, pode-se observar motoboys envolvidos com irregularidades no trânsito. Para fazer as entregas no menor tempo, vale tudo: ziguezagues entre carros, ultrapassagens em sinais vermelhos e circulação em calçadas. Essa série de imprudências no trânsito acaba sendo reflexo, muitas vezes, da pressão e cobrança a que os profissionais são submetidos. "É sempre apertado o nosso tempo. Quem contrata o serviço estipula um tempo e temos que correr", conta um motoboy, há três anos na profissão. Para não prejudicar os personagens desta reportagem, seus nomes não serão revelados.
"O mundo gira em torno de horários. O contratante paga e quer que o serviço seja executado com agilidade e competência. Temos que correr e fazer", explica outro rapaz. Para melhor atender os clientes e garantir qualidade em seus produtos, uma rede de fast-food, por exemplo, iniciou há cerca de três anos uma promoção de entrega: caso a comida não chegue ao destino em 28 minutos desde a hora do pedido, o cliente não paga. A empresa explica que existem limites geográficos para as entregas e que há tempo suficiente para isso.
Outro problema é que grande parte dos motoboys trabalha como profissional autônomo e, para ter uma receita mensal maior, acaba trabalhando para vários clientes. "Assim, é criada a necessidade de estar correndo", conta um deles que atende três empresas. O salário da maior parte da categoria gira em torno de R$ 800.
Iara ainda lembra que a cobrança que os motoboys sofrem é imposta por toda a sociedade. "A pressão não é só dos empregadores. Ela começa na clientela. Não importa a distância, mas a gente sempre quer que a nossa pizza chegue em cinco minutos. E se não chega quentinha, reclamamos", considera. "Acaba sendo um conjunto de exigências que resulta nesse total de mortes", complementa.