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Espécies saudáveis serão derrubadas na Rua Teffé. Enquanto isso, Zair Floriani tenta há um ano autorização para cortar árvores que ameaçam carros e pessoas no Centro | Fotos: Marcelo Elias e Hugo Harada/Gazeta do Povo
Espécies saudáveis serão derrubadas na Rua Teffé. Enquanto isso, Zair Floriani tenta há um ano autorização para cortar árvores que ameaçam carros e pessoas no Centro| Foto: Fotos: Marcelo Elias e Hugo Harada/Gazeta do Povo

Licença municipal demora a sair

Enquanto as árvores da Rua Teffé estão ameaçadas de corte, há um ano Zair Floriani, proprietário de um estacionamento na Rua Doutor Pedrosa, no Centro de Curitiba, tenta conseguir autorização para cortar árvores que estão dentro do terreno onde funciona o seu negócio. A queda constante de galhos volta e meia atinge um veículo. Floriani conta que já teve prejuízo com pelo menos seis carros e gastou cerca de R$ 2 mil no ano passado. Ele colocou uma rede para aliviar o impacto dos galhos. "Mas não me preocupo só com os meus prejuízos. Essa semana mesmo, os galhos caíram na calçada. Acho que vai ser preciso alguém se machucar para conseguir a licença de corte", diz. A árvore que mais preocupa Floriani é uma corticeira, nativa do Sul do Brasil, que atingiu a altura de um prédio de seis andares.

Outro lado

"Nós não damos autorização para o corte de árvores nativas só pela possibilidade de queda", afirma a diretora do Departa­­mento Municipal de Pesquisa e Monitoramento de Licen­­ciamento Ambiental da prefeitura, Érica Mielke. Ela explica que, para conceder uma licença de corte, o pedido precisa ser feito pelo proprietário da área na própria Secretaria de Meio Ambiente wou nas Ruas da Cidadania. Os técnicos vão até o local e analisam a condição fitossanitária (saúde) da árvore. A análise é visual e mesmo admitindo que o órgão não possui equipamentos adequados para subir nas árvores e verificar mais de perto sua estrutura, a diretora afirma que os técnicos erram muito pouco. "Somos rigorosos, às vezes, o pedido entra cinco ou seis vezes e sempre é negado", diz. (AA)

O possível corte de 75 árvores ao longo da Rua Teffé, no bairro Bom Retiro, em Curitiba, para construção do anel viário provocou revolta entre os moradores da região. Alegando desconhecer o impacto ambiental da obra, cerca de 80 pessoas colocaram seus nomes em um abaixo-assinado contra a derrubada e encaminharam ao Ministério Público (MP) Estadual. O promotor de Justiça Edson Peters enviou um ofício à prefeitura pedindo explicações sobre o projeto e recomendando a suspensão dos cortes até que as informações sejam analisadas.

O anel viário é uma obra do Plano de Mobilidade Urbana com vistas à Copa do Mundo de 2014. O projeto na Teffé prevê o prolongamento da rua, interrompida por uma praça, para que ela opere como uma das vias de um binário (ruas paralelas, com sentidos opostos). As obras no local começaram na última segunda-feira e as árvores fadadas a serem cortadas foram marcadas com um "xis".

Na denúncia feita ao MP, os moradores afirmam ser contrários à derrubada. "Cortar árvores plantadas há décadas para colocar asfalto não representa qualidade de vida. Esse projeto vai contra todos os conceitos de sustentabilidade que tanto ouvimos hoje em dia", argumenta o engenheiro civil Gérson Gasparin Barão, 59 anos, que mora na esquina da Teffé com a Rua Coronel João Guilherme Guimarães, onde a praça está localizada. Segundo os vizinhos de Barão, entre as árvores ameçadas existem espécies frutíferas que atraem passarinhos.

O aposentado Antun Luiz Antun, 71 anos, lembra também que a rua sem saída é uma opção de lazer segura para as crianças que vivem nas redondezas. Na tarde de ontem, algumas brincavam na gangorra da praça. "Antes eram os meus filhos, agora são meus netos", diz ele, que há 31 anos reside ao lado da praça. Para a analista de sistema Keila Frossard Ramos, 39 anos, a preocupação é com o fim do sossego. "Há 12 anos, escolhi minha casa a dedo, justamente por causa da tranquilidade da rua."

Exóticas

De acordo com a diretora do Departamento Municipal de Pesquisa e Monitoramento de Licenciamento Ambiental da prefeitura, Érica Mielke, as árvores da Teffé não têm relevância por serem de médio e pequeno porte e por se tratarem de vegetação exótica. "Diante dessa realidade, resolvemos aprovar o projeto integralmente, em favor de um bem comum maior que é melhorar a circulação do trânsito", explica. Érica afirma que está previsto o plantio de 150 outras árvores nativas na própria Teffé e em outras vias da região para compensar os cortes. "Para efeito de biodiversidade, a presença de mata nativa é mais aconselhável do que as exóticas", explica.

O coordenador do projeto Anel Viário, José Alvaro Twardowski, argumenta que utilizar a Rua Henrique Itiberê da Cunha, paralela à Teffé, como uma das vias do binário, conforme sugestão dos moradores, iria contra o conceito da proposta. "A intenção é que os binários operem na menor distância possível. Ou seja, o motorista precisa saber que se andar uma quadra a mais para esquerda ou para direita vai encontrar a via do binário", diz.

O prazo para a prefeitura enviar as informações solicitadas pelo MP vence na próxima segunda-feira. "Caso a resposta não chegue vamos apresentar denúncia contra os responsáveis", afirma o promotor.

Interatividade

A construção do anel viário justifica o corte de árvores e o fim de uma área de lazer na Teffé? Por quê?

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