Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Inclusão deveria ser feita na base

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Jacir Venturi, acredita que o sistema de cotas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) não resolve o problema da desigualdade entre os alunos. "De cada 100 alunos, só 18 concluem o ensino médio. Isso demonstra que as mudanças têm de ser feitas a partir da educação básica."

A evasão é outro problema. Venturi acrescenta que "nos últimos três anos, a perda do poder aquisitivo da classe média promoveu uma evasão de cerca de 12% das escolas privadas. Por vias tortas, o governo já está incrementando as matrículas na rede municipal e estadual sem investir na qualidade."

CARREGANDO :)

Sobra de vagas leva a mudanças no regulamento do concurso

Franciele Pereira do Nascimento, de 18 anos, entrou para a Universidade Federal do Paraná (UFPR) neste ano e conquistou uma das vagas da cota racial para o curso de Direito. Ela é estagiária em um escritório de advocacia e, apesar de os pais não terem curso superior, acredita que o bom exemplo vem da família. "O sistema de cotas é uma medida paliativa de inclusão", diz ela. "É uma medida de urgência para se criar uma classe média negra. A Constituição diz que todos são iguais, mas os negros não são tratados da mesma forma. É bom ver que há mais alunos negros na universidade", afirma a estudante.

Apesar da oportunidade, os números mostram que sempre há sobra de vagas da cota racial (veja quadro ao lado). Por isso haverá uma mudança no vestibular deste ano. Se o número de candidatos aprovados dentro do sistema de vagas para negros não for preenchido, as vagas restantes serão destinadas exclusivamente para os alunos de escolas públicas, e vice-versa. Nos anos anteriores, as vagas remanescentes eram ocupadas pela concorrência em geral.

Aprovação

A comissão de avaliação do plano de integração social e racial da UFPR encaminhou pedido de reavaliação do fator de aprovação da primeira fase do vestibular ao Conselho Universitário. O fator de aprovação é um índice usado pela Comissão de Vestibular para determinar o número de aprovados para a segunda fase. Desde 2005, este índice varia de 2 a 5, de acordo com a procura pelos cursos. Para o curso de Direito, por exemplo, onde o número de vagas é de 130 e a procura é alta, são aprovados 650 estudantes para a segunda fase. Como não há divisão de vagas por cotas na primeira fase, o professor Paulo Vinícius Baptista Costa, membro da comissão, acredita que este cálculo prejudique os cotistas. "A comissão já sugeriu que o fator de aprovação varie de 3 a 6", explica. Ou seja, no caso de Direito, pore exemplo, poderiam passar até 780 alunos para a segunda fase. "A diferença de nota em relação aos primeiros é muito baixa", diz. (LC)

O estudante Felipe Miguel de Souza fez o primeiro vestibular no ano passado, aos 16 anos, e passou em Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR), enfrentando uma concorrência de 22 candidatos por vaga. O que torna a história de Felipe um pouco diferente das muitas que se ouvem sobre vestibulandos é a barreira que o estudante ultrapassou para chegar à universidade.

Publicidade

Felipe sempre estudou em escolas públicas de Colombo, região metropolitana de Curitiba, e freqüentou um cursinho preparatório mantido por uma organização não-governamental. As aulas, nos feriados e fins de semana, são dadas por professores voluntários. Pela sua condição econômica, de baixa renda, e por ser egresso de escola pública, o estudante foi beneficiado pela política de cotas sociais do governo federal.

Mais do que um benefício, Souza acredita que a distribuição de cotas seja um passo para a democratização do ensino. "O sistema de cotas pode tornar a universidade um local realmente universal, plural, onde pessoas de condições econômicas e histórias de vida diferentes podem se encontrar e aprender. Para mim, é sinônimo de inclusão", diz o estudante.

Apesar de o programa já ter sido implantado há três anos, Felipe diz perceber um preconceito implícito por parte dos colegas não-cotistas. A presença de estudantes de várias classes sociais no mesmo patamar de aprendizado, porém, está modificando este cenário. "A expressão ‘elite cultural’ está revestida de uma carga ideológica sem tamanho. Mas estamos forjando um novo paradigma social e reforçando a discussão sobre a democracia na universidade."

Avaliação

A UFPR vai realizar neste ano o seu quarto vestibular com o sistema de cotas. Do total de vagas, 20% são direcionadas para os estudantes egressos de escolas públicas e outros 20% para alunos negros.

Publicidade

O reitor Carlos Augusto Moreira Júnior avalia a adoção do sistema de cotas como positiva. "Aprendemos bastante nesses três primeiros anos", afirma. "Um dado que chama a atenção é que não há disparidade entre cotistas e não-cotistas em relação ao desempenho acadêmico. Nós nos precocupávamos também com a dependência – situação em que o aluno não consegue evoluir num curso devido a uma disciplina – mas percebemos que não há diferença entre as duas categorias", explica o reitor.

O índice de evasão é um dado que estabelece diferença, segundo a reitoria da UFPR. "Depois de dois anos completos de curso, observamos que a evasão entre os não-cotistas chega a 12,5%. Entre os alunos oriundos de escolas públicas o índice é de 4% e entre os negros está em 6%. Isto significa que os cotistas querem permanecer na universidade e valorizam esta conquista. Levando-se em conta que um aluno universitário custa até R$ 12 mil para a sociedade, a evasão representa um gasto sem resultado", analisa Moreira Júnior.