A notícia de que a Copa América de futebol será realizada no Brasil, depois de a organização do evento ter desistido de sediá-lo na Colômbia e na Argentina, provocou reações estridentes das lideranças da CPI da Covid no Senado. O argumento é o de que o torneio pode acelerar a propagação do coronavírus no país. Mas, pela avaliação técnica de infectologistas, a própria Comissão Parlamentar de Inquérito tem negligenciado cuidados essenciais para impedir novos contágios.
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No fim de semana passado, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) apelou diretamente aos jogadores da seleção para pedir que eles não entrassem em campo na Copa América. “Não realizar e não participar da Copa América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis”, ele escreveu, em uma carta enviada aos atletas e à comissão técnica.
No mesmo tom, o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), também criticou a realização do torneio no país: “A Copa América não vai deixar ninguém passar fome se não houver esse torneio”. Em tese, o argumento de Renan e Aziz faz sentido. Mas, ao mesmo tempo, suscita uma pergunta: a CPI também está fazendo tudo o que podia para conter a proliferação do vírus?
Mas as ações do relator e do presidente da CPI não deram certo. Os jogadores da seleção decidiram jogar a Copa América e o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a realização do torneio no Brasil.
No início da CPI, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) argumentou que, justamente por causa da pandemia, os trabalhos deveriam ser adiados, de forma a evitar que parlamentares e funcionários corressem o risco de contrair a Covid-19. Mas, na época, o argumento do filho do presidente Jair Bolsonaro não prosperou - dentre outras razões -, porque tinha toda a aparência de uma manobra para protelar os trabalhos. Ainda assim, a questão continua: ao se reunir semanalmente em uma sala de dimensões reduzidas, com pouca circulação de ar e repleta de integrantes dos grupos de risco, a Comissão Parlamentar de Inquérito pode estar contradizendo a mensagem que pretende apresentar.
Em seu site, a Organização Mundial de Saúde lista três fatores que ajudam a conter a propagação do vírus: o primeiro é evitar espaços fechados, o segundo é manter uma distância segura das demais pessoas e o terceiro é limitar o contato a períodos curtos. A CPI não costuma cumprir esses requisitos. Por causa da movimentação de assessores e do contato frequente entre parlamentares no pequeno plenário 3 da Ala Alexandre Costa, no Senado, o distanciamento social é desrespeitado com frequência.
O infectologista Jaime Henrique Amorim afirma que, por movimentar mais pessoas e ter uma logística mais complexa, uma partida da Copa América gera um risco mais elevado do que uma reunião da CPI da Covid. Ainda assim, ele afirma que o modo de funcionamento da CPI está longe do ideal.
“Para qualquer virose respiratória, é complicado colocar muitas pessoas em um ambiente fechado. As pessoas podem respirar essas partículas virais que são lançadas no ar por quem está contaminado. Também precisamos considerar toda a logística de funcionários envolvidos e do transporte das pessoas. É um risco considerável”, explica.
O especialista afirma que a CPI da Covid deveria recorrer a reuniões virtuais para mitigar os riscos de propagação do vírus que, pelo menos em tese, os parlamentares estão tentando enfrentar. “Reuniões presenciais sempre envolvem risco. A CPI deveria, sim, priorizar reuniões virtuais”, diz o infectologista. E explica: “em geral, nós consideramos como aglomeração qualquer reunião que tenha de quatro ou cinco pessoas para cima, dependendo da área. E a gente tem visto pela televisão que quando as reuniões da CPI são feitas existe aglomeração".
Outro ponto é a idade dos membros da CPI da Covid, já que alguns senadores têm 60 anos ou mais e fazem parte do grupo das pessoas consideradas com mais riscos em relação à pandemia. Alguns deles são: Aziz, Calheiros, Eduardo Braga, Humberto Costa, Jorginho Mello, Otto Alencar e Tasso Jereissati. E isso sem contar os parlamentares, assessores e funcionários do Senado que possam ter alguma comorbidade.
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