Brasília Sob o argumento de que existem "crimes conexos", o relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), afirmou ontem que estuda pedir o indiciamento do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e do ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda).
Os governistas que integram a comissão ameaçam recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que a CPI fugiu do seu objeto de investigação.
Garibaldi disse que o relatório já está sendo produzido pela assessoria técnica da CPI. O senador planeja entregá-lo até o fim do mês para que possa ser apreciado em junho. "Vamos defender a tese de crimes conexos e mostrar a ligação dos casos investigados."
Apesar das dúvidas sobre os indiciamentos de Okamotto e Palocci, o relator vai responsabilizar por crime de corrupção na prefeitura de Santo André (SP) o ex-secretário municipal Klinger de Souza e os empresários Ronan Pinto e Sérgio Gomes da Silva. Os três negam irregularidades.
"Vamos pedir o indiciamento deles por corrupção e lançar suspeita de que o assassinato do prefeito (Celso Daniel, de Santo André) está relacionado", disse.
Reação
Articulador do governo na CPI, o senador Tião Viana (PT-AC) disse que não vai aceitar pedidos de indiciamento de pessoas investigadas fora do objeto da CPI. "Vamos tentar buscar a serenidade, mas não vou deixar que rasguem a Constituição e o regimento interno."
Criada em junho passado para apurar o uso de casas de bingo para lavagem de dinheiro, a CPI iniciou as investigações a partir do envolvimento do ex-subchefe para Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz com o empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Com o tempo, passou a investigar denúncias de corrupção em prefeituras petistas e atingiu Palocci, Okamotto e o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Eles refutam as acusações.
Garibaldi ainda estuda a forma de pedir o indiciamento de Okamotto. "Eu tenho de olhar o lado jurídico, achar o termo correto para criminalizá-lo." O relator disse lamentar não ter tido acesso à quebra dos sigilos de Okamotto.
O presidente do Sebrae assumiu a responsabilidade pelo pagamento de uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT.
A suspeita da oposição é que esse dinheiro tenha saído do "valerioduto".
Com relação a Palocci, Garibaldi também estuda a forma de indiciamento. Ele levará em conta as denúncias sobre corrupção em Ribeirão Preto (SP) administrada duas vezes (1993-1996 e 2000-2001) pelo ex-ministro quanto o possível envolvimento dele com empresários de bingo.