O relatório da comissão parlamentar de inquérito (CPI) instalada na Câmara Municipal de Curitiba para investigar as invasões de terrenos na cidade vai indicar ao Ministério Público três nomes que, segundo os vereadores, podem ter colaborado com as ocupações. O relator da CPI, vereador Roberto Hinça (PDT), afirmou na quarta-feira (15) que há "indícios" de que as invasões tenham tido algum tipo de apoio do secretário especial do governo do estado para assuntos de Curitiba, Doático Santos, do assessor da governadoria Carlos Lima e do presidente da União Geral de Bairros de Curitiba e Região Metropolitana, Jairo Graminho.
A CPI foi instalada em março, depois que terrenos nos bairros Santa Quitéria e Campo Comprido foram ocupados. O relatório será votado na próxima segunda-feira (20) pelos integrantes da comissão. Depois, será analisado pelo plenário da Câmara. Caso seja aprovado, segue para o MP, que poderá dar continuidade às investigações. "Devido à falta de tempo e às limitações legais, ficou uma dúvida em relação à participação deles ou não", admitiu o vereador Roberto Hinça. "Mas há indícios, pelas declarações, pelos depoimentos e pelas circunstâncias."
O nome de Doático Santos foi apontado durante o depoimento da líder comunitária Maria de Fátima Freitas, uma das invasoras do Santa Quitéria, no dia 7 de maio. Segundo ela, o peemedebista teria organizado e incentivado a invasão no Santa Quitéria. Doático negou a acusação em depoimento prestado no dia 8 agosto.
Já Carlos Lima (que é pastor da Igreja Batista) utilizou um carro oficial do governo do estado para visitar uma invasão no bairro Campo Comprido e teria dado uma "carteirada" para impedir a ação de policiais militares no terreno, desocupado em março. Lima negou ontem que tenha incentivado a invasão. Ele disse que intermediou a retirada dos invasores quando uma decisão judicial determinou a desocupação da área. "As pessoas que estavam na ocupação vinham sofrendo coação e corriam risco", afirmou. "Não faço parte de planejamento nenhum (de invasões). Minha participação foi no sentido de pacificação."
O pastor admitiu que usou o carro oficial do governo do estado, mas disse que foi ao lugar a trabalho. "Estive no lugar no horário de trabalho porque atuo em projetos sociais do governo. O que estão querendo é atingir a imagem do governador." Lima ainda questionou a atuação do relator da CPI, Roberto Hinça. "O vereador tem uma imobiliária."
Para Doático Santos, o único objetivo da CPI foi envolver seu nome e o do governador Roberto Requião. "A CPI foi uma armação política para tentar envolver a mim e ao governo do estado nesse tipo de situação. Continuo preocupado com a necessidade de o município ter uma política habitacional que acolha os pobres. Isso sim é prevenir futuras invasões."
Jairo Graminho negou qualquer participação e disse que a CPI tem "motivações políticas." "Nunca fui lá (nas invasões). Acho que as invasões acontecem por um motivo muito simples, a falta de oferta habitacional da prefeitura."