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"Solidão leva ao consumo", diz ex-usuária

Formada em Comércio Exterior no ano passado, Fernanda*, de 32 anos, é ex-usuária de cocaína. Segundo ela, a solidão e a vontade de fazer amigos em um ambiente novo são os motivos que tornam o consumo de drogas alto entre os universitários. "Muitos saem de casa, vão para outras cidades, ou mesmo perdem contato com os amigos de colégio. Quando chegam na faculdade querem se enturmar, procuram a turma mais popular e quem você acha que é o mais popular?", ironiza.

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Quase 50% dos universitários brasileiros já usaram drogas

Quase metade dos universitários brasileiros (48,7%) de 18 a 24 anos já experimentou algum tipo de droga ilícita. O dado foi revelado pelo 1º Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, divulgado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e feito em parceria com um grupo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

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  • Confira um mapeamento da produção e consumo de drogas

Ao contrário da América do Norte e da Europa, o consumo de cocaína e derivados na América do Sul está em expansão. A região é a quarta maior consumidora mundial e, o Brasil, o maior mercado sul-americano, com 900 mil usuários, seguido pela Argentina, com um número três vezes menor. É o que mostra o Relatório Mundial sobre Drogas 2010, lançado pelo Escritório sobre Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (Unodc) no mundo inteiro, às vésperas do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico de Drogas.

De acordo com o relatório, a produção de ópio e coca está estabilizada ou em declínio e os maiores mercados consumidores, desde a década 1990, dessas substâncias (Europa e Sudeste Asiático no caso da heroína, e América do Norte e Europa Ocidental, no caso da cocaína) estão diminuindo, mas o consumo nas nações em desenvolvimento continua em crescimento. A área mundial de cultivo de coca caiu 28% de 2000 a 2009 e está em 158,8 mil hectares – 43% na Colômbia, 38% no Peru e 19% na Bolívia. Neste período houve uma diminuição de 58% das áreas na Colômbia, mas um aumento de 38% no Peru e de 112% (mais que o dobro) na Bolívia. A cocaína é a droga que mais demanda tratamento na região (49%).

Ao mesmo tempo, enquanto as apreensões diminuíram na Amé­rica do Norte e na Europa, aumentaram na América do Sul, passando de 322 toneladas em 2007 para 418 toneladas em 2008. A maior parte(mais de 60 toneladas) foi registrada na Colômbia, mas Peru (96%), Bolívia (62%), Argentina (51%) e Brasil (21%) também tiveram aumentos que contribuíram para esse crescimento. A única exceção na região foi o Chile, que teve uma redução de 12%.

O relatório informa que, tradicionalmente, a cocaína segue diretamente da Colômbia pelo Golfo do México e pelo Oceano Pacífico, mas que, devido à pressão das apreensões e outras mudanças na demanda de mercado, a Vene­zuela, o Equador e o Brasil passaram a ter papel importante no tráfico – 10% do que foi mandado para a Europa em 2008 por navio partiu do Brasil.

Boa parte do consumo de 900 mil usuários estimado no país está relacionado ao pesadelo recente do crack, fabricado a partir da pasta de coca e da própria cocaína, segundo o chefe da Delegacia de Repressão a Entor­pecentes da Polícia Federal no Paraná, Rivaldo Venâncio. Re­­centemente, o Ministério da Saúde falou em mais de 1 milhão de usuários de crack, quando do lançamento do programa de enfrentamento à droga. O número realmente pode ser maior, já que parte dos dados usados pelo Unodc é de 2005 e a escalada do crack data de três anos para cá.

Segundo Venâncio e outros es­­pecialistas, nos últimos anos muitos dos usuários da cocaína comum migraram para o crack. "O preço mais barato é um fator importante nessa migração", diz. A falta de oferta da cocaína também teria provocado essa migração.

Até 2008, o crack, que já tinha marcado presença em São Paulo e mesmo aqui em Curitiba, ainda não tinha se proliferado no Rio de Janeiro. "Havia um pensamento entre os traficantes que, por causa do efeito devastador da droga [que é cerca de 80 vezes mais potente que a cocaína comum], o tráfico de crack não seria lucrativo. O que acontece, no entanto, é que, a me­­dida que a pessoa vai se tornando usuária, o custo vai subindo. Aque­le que começou com uma pedra de R$ 3, vai passar a comprar cinco, dez pedras. Com isso, desde o ano passado, a quantidade de pacientes que recebemos aumentou de forma alarmante", conta a psiquiatra e fundadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da Univer­sidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Maria Thereza Aquino.

O último relatório do Narco­denúncia mostra um crescimento na apreensão de pedras de crack no Paraná: de 12.765 em 2003 para 1,3 milhão em 2009. Neste ano, de janeiro até agora, foram 785.688 pedras apreendidas. Na última segunda-feira, 37 quilos de crack e quatro quilos de cocaína foram apreendidos em em Curitiba. Quatro pessoas foram presas.

Políticas públicas

Dados sobre o uso de drogas servem como base para a definição de ações governamentais. Se­­gundo a secretária adjunta da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), Paulina Vieira Duarte, os levantamentos são fundamentais para "conhecer, de fato, qual a situação da população e, a partir disso, planejar intervenções eficazes em conjunto com a comunidade acadêmica, sociedade e governo".

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