O Brasil está falhando no combate ao crack e os municípios da faixa de fronteira são os que mais têm sentido os efeitos desse problema. A conclusão é do estudo Crack na Fronteira Brasileira, divulgado ontem pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Além da grande extensão de fronteira, a falta de equipamentos federais de fiscalização contribui para facilitar a entrada da droga, aponta o levantamento. As informações são da Agência Brasil.
A Região Norte é a que mais preocupa porque seus estados fazem fronteira com Peru, Bolívia e Colômbia, que são três grandes produtores de cocaína, matéria-prima para a produção do crack. "É o nosso grande calcanhar de Aquiles", avalia o presidente da CMN, Paulo Ziulkoski. "Nós estamos falando da fronteira com os três países que mais alimentam o Brasil com drogas. A ínfima presença de postos das polícias Federal e Rodovária Federal e da Alfândega chama a atenção", apontou.
Dos 98 municípios que estão na faixa de fronteira nessa região, 22 responderam à pesquisa da CNM, que foi feita por meio de um questionário virtual com as secretarias municipais de Saúde e Assistência Social. Entre os que responderam, foi apontada a existência de apenas um posto de Alfândega, um da Polícia Rodoviária Federal e nenhum posto da Polícia Federal.
Nas regiões Centro-Oeste e Sul a situação não é muito diferente, segundo a pesquisa da CNM. Na primeira, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm 72 municípios em faixa de fronteira, dos quais 41 responderam ao questionário da CNM. Entre eles 85% disseram ter problemas específicos com o crack. "Nós podemos dizer com tranquilidade que temos pelo menos 400 quilômetros de fronteira livre entre um posto e outro de fiscalização nessa região", diz o presidente da CNM.
O presidente da CNM ressalta ainda que a segurança dessas áreas deve ser feita obrigatoriamente pela União. "Mesmo que os municípios tivessem dinheiro para fazer, eles não podem porque a Constituição determina que são os órgãos da União que devem atuar [nas fronteiras]", conclui.
Efeitos da droga
A violência e crimes como roubo e furto estão entre os principais problemas decorrentes da presença do crack nos municípios da região de fronteira do Brasil, segundo a pesquisa.
Entre os municípios que responderam ao questionário, a violência aparece com maior frequência, com 21% dos municípios o listando em primeiro lugar. Em seguida, 19% apontaram os furtos como principais problemas e 18% apontaram os homicídios. Roubos, com 16%, e exploração sexual, com 11%, também chamam a atenção.