Entrevista com Luiz Fernando Delazari, secretário de Estado da Segurança Pública.
Estimativas da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) atribuem ao tráfico de drogas oito entre dez homicídios cometidos em Curitiba. Em São Paulo e Rio de Janeiro, o tráfico adquiriu proporções assustadoras. Os criminosos dominam certas regiões ou bairros da cidade, sobretudo as favelas. E, em Curitiba? A figura do "poderoso chefão" do crime existe? O recente caso de Hirosshe de Assis Eda, o Japonês, morto no último dia 4, ilustra o interesse dos criminosos em assumir o controle da venda de drogas na capital. Secretário de Segurança, Luiz Fernando Delazari afirma que a situação de Curitiba e região não se assemelha à das duas maiores cidades do Brasil graças à atuação de vários setores da polícia.
De acordo com a polícia, o interesse de Japonês era dominar o tráfico no Centro de Curitiba. Em Curitiba e região metropolitana, existem traficantes que dominam regiões ou bairros, como ocorre em São Paulo e Rio?
Não. O tráfico no Rio, por exemplo, envolve criminosos com alto poder de fogo, com muito dinheiro, capazes de dominar comunidades e pagar agentes públicos. Aqui em Curitiba e região convivemos com traficantes de menor poder ofensivo. Isso se deve principalmente ao trabalho incansável de repressão ao tráfico feito pela polícia paranaense. Nós aqui no Paraná, além da Força Samurai da Polícia Militar, remodelamos e reforçamos o Dinarc (Divisão de Narcóticos), espalhamos os NRTDs (Núcleos de Repressão ao Tráfico de Drogas) em todo o Paraná, fazemos o trabalho preventivo do Proerd e temos um programa chamado 181 Narcodenúncia, considerado exemplar pelo Ministério da Justiça e já copiado por outros estados, que colabora muito com a polícia para a retirada de circulação de vários traficantes.
Como o crack assumiu o antigo reinado da maconha, pode-se dizer que houve também mudança no tráfico de drogas?
Foi uma mudança drástica. O crack, com seu intenso poder de dependência química somado ao baixo preço de aquisição, dizimou parte da nossa sociedade. Com seu poder avassalador ele escravizou e escraviza milhares de pessoas. É uma droga rápida e intensa. Em 15 segundos faz efeito no cérebro que chega a durar cinco minutos no organismo. Isso faz com que a pessoa queira cada vez mais e a leva inevitavelmente ao mundo da violência. Um pesquisador brasileiro que acompanhou durante cinco anos mais de 130 viciados em crack no começo dos anos 1990 mostra que 90% morreram em condições de violência e os outros 10% por overdose. O crack fez o tráfico ficar mais forte porque subjugou um exército de viciados cada vez mais violentos.
Era comum ouvir antigamente que o traficante era uma figura inteligente, porque não se envolvia com o produto que vendia. Baseado no que se viu no caso do Japonês, houve mudança de perfil do traficante?
O caso deste traficante é um exemplo e não pode embasar um "modelo" de tráfico. Existem traficantes como ele e existem os que comandam matanças não se envolvendo diretamente (com o consumo da droga). Mas, no final das contas, todos eles são o estopim, a causa de milhares de crimes como homicídios, furtos e roubos que registramos hoje em dia.
Em geral, especialistas indicam a conivência, participação ou omissão de policiais para o funcionamento do tráfico de drogas. A corrupção, nesses casos, realmente ocorre?
Todo o crime organizado tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico de pessoas e diversos outros precisa da conivência do agente público para existir. Se não fosse a corrupção, os esquemas feitos com policiais, fiscais, juízes, promotores e outros agentes públicos dificilmente o crime organizado sobreviveria. Para conter a corrupção, são necessárias fiscalização constante, implacável e incansável e a punição rápida contra a atitude corrupta deste agente. Reduzir a impunidade é um dos caminhos para conter com mais eficiência a corrupção dos agentes públicos.
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