Um trecho da Avenida João Gualberto, no bairro Juvevê, em Curitiba, deslizou na madrugada de ontem sobre a fundação de um prédio em construção. O acidente, ocorrido por volta das 3 horas da manhã, formou uma cratera de 6 metros de profundidade e 25 de comprimento, que engoliu parte da pista no sentido bairro-Centro. Ninguém ficou ferido. O trânsito foi bloqueado em toda a avenida (canaleta e vias laterais) e três prédios foram interditados pela Defesa Civil. O bloqueio poderá durar por pelo menos 20 dias.
"As luzes começaram a piscar, e eu senti um leve tremor. Quando saí para ver o que estava acontecendo, vi que estava caindo o mundo, com tudo tremendo", descreve o analista de sistemas Diogo Micheluzzi, único a ouvir o desmoronamento. "Tiramos as pessoas do prédio e levamos para a casa de parentes. A gente fica apreensivo por não saber o que pode acontecer."
Cerca de 1,6 mil pessoas, em um raio de oito quadras do acidente, ficaram sem água. Durante todo o dia, a Sanepar e a prefeitura trabalharam para isolar a rede de água e esgoto no trecho atingido. O fornecimento estava programado para voltar às 19 horas de ontem.
As pessoas mais afetadas foram os moradores vizinhos à construção, um prédio comercial de 20 andares. Três imóveis, onde moram quatro famílias e funcionam três estabelecimentos comerciais, foram interditados pela Defesa Civil. Ontem à tarde, os proprietários foram autorizados a entrar para recolher pertences de pequeno porte, como roupas, aparelhos eletrônicos e documentos. "Vim de manhã e não consegui entrar. Estou com a loja fechada e não vou poder trabalhar por algum tempo", lamenta Telma Zanon, proprietária de uma boutique. "Estava saindo ontem [anteontem] e percebi que o asfalto estava estranho", lembra.
O trânsito foi desviado para as duas pistas paralelas (ruas Nicolau Maeder e Campos Sales), inclusive os biarticulados que circulam pela canaleta. Apesar de a faixa exclusiva para os ônibus não ter sido afetada, a Defesa Civil optou pelo bloqueio para evitar trepidações no solo, o que aumenta o risco de novos deslizamentos. Embora o fluxo nas duas vias paralelas tenha aumentado, não houve congestionamento.
Até o início da noite de ontem, a Urbs ainda não tinha divulgado uma estimativa de tempo para a reabertura da parte não danificada da João Gualberto. Avaliações de técnicos que estiveram no local indicam que a rua permanecerá totalmente bloqueada ao menos até a próxima segunda-feira, mas o bloqueio poderá se estender por mais de duas semanas. Segundo a construtora, a recuperação da parte danificada vai levar 60 dias.
Hipóteses
Existem duas hipóteses para explicar a queda. A Novaes Chemin Engenharia, empresa responsável pela obra, atribui o fato a um solapamento de terra, causado por infiltrações no solo abaixo da rua. "Quando nós levantamos a cortina [muro de arrimo que separa a construção e a rua no subsolo], a cratera não existia", afirma João Humberto Chemin, engenheiro da construtora.
O processo teria iniciado por causa de vazamentos de água da rede pluvial, que diminuíram a densidade do solo. Com isso, o asfalto cedeu e em seguida arrebentou a cortina. A Sanepar informou ter detectado ontem um vazamento na região, mas avalia que o rompimento ocorreu por causa do deslizamento.
Segundo o que a Gazeta do Povo apurou, uma outra hipótese foi aventada por técnicos ligados a órgãos da prefeitura. Os engenheiros, que não quiseram se identificar, não descartam a possibilidade de haver irregularidades na fundação da obra. Com isso, a cortina teria cedido primeiro, levando a terra e o asfalto para baixo.
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