Uma comissão do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul faz nesta quinta-feira uma vistoria na boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde 235 jovens morreram em decorrência de um incêndio. A Comissão de Especialistas em Segurança contra Incêndio vai elaborar um parecer técnico sobre a edificação que possa apontar as causas do incêndio. O resultado do trabalho será divulgado na segunda-feira.
Na quarta-feira, a Polícia Civil fez uma reconstituição do incêndio. Testemunhas indicaram aos policiais o local exato onde o fogo começou - no teto sobre o palco onde estava o vocalista da banda - e relataram que o extintor de incêndio usado por um dos músicos não funcionou.
Além da reconstituição, também foram ouvidas 14 pessoas pela polícia. Os depoimentos mostraram que a fumaça preta tomou toda a boate no prazo de 40 segundos a um minuto, impedindo as pessoas de enxergarem.
"Isso explica de as pessoas terem ido para o banheiro. Uma pessoa disse que as únicas luzes que se enxergavam era a luz verde do banheiro e uma luz verde em outro local. Eles foram conduzidos para o banheiro pensando que fosse a saída", disse o delegado regional da Polícia Civil, Marcelo Arigony.
Os funcionários que prestaram depoimento disseram ainda que nunca receberam nenhum tipo de treinamento contra incêndio, e que na noite da tragédia foram preparadas mil comandas para o público, acima da capacidade da casa, de 691 pessoas. No entanto, ainda não se sabe se todas foram usadas.
Um dos funcionários disse que ele próprio instalou a espuma isolante no local, utilizada como proteção acústica desde meados de 2012. Há indícios, segundo a polícia, de que o material usado não era adequado e durante a queima produziu gases tóxicos, que provocaram as mortes. Segundo as investigações, ainda não há comprovação de que as autoridades tenham sido avisadas da instalação do produto. Marques, o advogado de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da boate Kiss, admitiu na quarta-feira que foi usada espuma - material que entrou em combustão durante o incêndio da madrugada do último domingo - em reforma que serviu para aumentar o isolamento acústico da casa de espetáculos.
Entenda a tragédia em Santa Maria
Na madrugada do dia 27 de janeiro, centenas de jovens participavam de uma festa na boate Kiss, no Centro de Santa Maria. O fogo começou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Por volta de 2h30m, um dos integrantes do grupo utilizou um sinalizador luminoso, cujas fagulhas atingiram a espuma de isolamento acústico da casa noturna, provocando o incêndio.
As vítimas buscaram rotas de fuga, no entanto, segundo relato de sobreviventes, um grupo de seguranças bloqueou a única saída da boate para evitar que os clientes saíssem sem pagar. Sem conseguir sair do estabelecimento mais de 230 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos.
A maioria dos mortos foi vítima de intoxicação pela fumaça. Os bombeiros encontraram dezenas de corpos empilhados nos banheiros, onde muitos ainda tentaram se proteger, e em frente à porta da boate.
O incêndio, que teve repercussão internacional, é considerado o segundo maior da História do país e a maior tragédia do Rio Grande do Sul.
Com 262 mil habitantes, Santa Maria é uma cidade universitária que fica na região central do estado. A festa, chamada de "Agromerados", reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS). A maior parte deles tinha entre 16 e 20 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o plano de prevenção contra incêndios da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012.
Localizada na Rua Andradas, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15.