Em vistoria realizada nesta sexta-feira (17) na obra de um edifício em construção na Rua Muniz Barreto 798, em Botafogo - onde o operário Eduardo Leite, de 24 anos teve a cabeça atravessada por um vergalhão -, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) constatou que o processo de suspensão dos vergalhões não foi realizado corretamente, e sim de maneira improvisada. Além disso, segundo o Crea, não poderia haver ninguém embaixo do local onde os vergalhões estavam sendo suspensos.
"Verificamos que as medidas de segurança não foram tomadas. Agora vamos convocar a responsável pela segurança da obra, Kátia Emília Pinto, para dar esclarecimentos", afirmou o vice-presidente do Crea, Jaques Sherique.
A mulher do operário visitou o marido pela primeira vez nesta sexta-feira. Ele está internado no CTI do Hospital Municipal Miguel Couto, na zona sul da cidade, desde quarta-feira (16), quando aconteceu o acidente. Emocionada, Lilian da Costa, de 23 anos, disse que o marido estava bem e não parecia ter se machucado. Segundo ela, Eduardo não entrou em detalhes sobre o momento em que o vergalhão de dois metros atravessou sua cabeça nem sobre a obra.
"Ele apenas tentava me acalmar, dizendo que me amava, que estava bem e não sentia dor. Perguntou pelos meninos (os dois filhos, um de 4 anos e outro de 1 ano e 8 meses), pediu que mandasse um beijo pra eles e que dissesse que o pai os amava muito", contou Lilian.
A jovem contou, ainda, que a médica lhe disse que espera uma vaga na enfermaria para transferi-lo do CTI.
"Ela disse que ele só não recebeu alta porque precisa ficar em observação. Mas confirmou que ele está muito bem", explicou Lilian.
Momentos antes de encontrar Eduardo, Lilian disse que o marido está fazendo muita falta em casa, onde mora com dois filhos, para quem não contou o que aconteceu. Ao mais velho, Marcos Eduardo, que pergunta toda hora pelo pai, ela diz que o marido está no trabalho.
"Chorei muito e pedi a Deus para ele ficar. Foi um milagre! Foi Deus que guardou ele para mim, se não ele nem tinha chegado vivo ao hospital", disse Lilian, antes de contar como soube do acidente. "O encarregado da obra me ligou, em casa, dizendo que ele tinha caído. Eu vim correndo para o hospital e, quando cheguei, a assistente social me disse que ele estava sendo operado. Eu não entendi nada. Depois que fui saber do vergalhão".
Segundo nota divulgada no início da tarde desta sexta-feira pela Secretaria municipal de Saúde, Eduardo Leite permanece estável. Ele está sendo medicado com antibióticos, para evitar infecções. "O paciente passou bem a noite, esta lúcido e não apresenta sequelas. Ainda não há previsão de alta", informa a nota. O rapaz acordou bem, está falando e respirando sem a ajuda de aparelhos.
Eduardo foi atingido por um pedaço de ferro que despencou do quinto andar do prédio em que trabalhava. Com a queda, de uma altura de 15 metros, o vergalhão ganhou peso equivalente a 300 quilos ao atingi-lo. Após o acidente, os bombeiros cortaram uma parte do vergalhão ainda no local do acidente e levaram o ferido para o hospital, onde a vítima, para espanto de todos, chegou falando normalmente. Eduardo foi submetido a uma cirurgia de cinco horas e não apresenta nenhum tipo de sequela.
Segundo o diretor do Miguel Couto, Luiz Alexandre Essinger, o paciente, depois de tanto azar, deu sorte. Se o vergalhão tivesse caído três centímetros para o lado, teria atingido a parte do cérebro responsável pela parte motora.
"Por três centímetros, ele estaria sem mexer os braços e as pernas. Se fosse apenas mais um centímetro para a direita, ele teria perdido um olho".
A reportagem esteve no canteiro de obras em Botafogo nesta sexta-feira, mas nenhum funcionário foi autorizado a falar. A PDV, empresa responsável pela obra, ainda não se manifestou sobre a acusação do Crea.
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