Procedimento recorrente na rede particular, a cesárea é cada vez mais comum também em hospitais públicos ou conveniados ao Sistema Único de Saúde. Em todo o país, nos últimos três anos, o porcentual de mulheres que optaram pela cirurgia no momento do parto realizado pelo SUS saltou de 36,7% para 40,1%. No Paraná, no mesmo período, a taxa passou de 35,4% para 41,6% crescimento de 6%, contrariando meta do programa Mãe Paranaense de reduzir as cesáreas em 2% ao ano.
Esses índices ultrapassam os 15% preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o relatório Situação Mundial da Infância, divulgado pela Unicef em 2011, entre os países membros da OMS, além do Brasil, apenas Itália, México, Irã e República Dominicana tem índices acima dos 40%.
Projeto
Para tentar frear esse avanço, na última semana o governo federal anunciou que até o ano que vem pretende implantar 280 Centros de Parto Normal em hospitais da Rede Cegonha. Segundo o Ministério da Saúde, serão investidos R$ 165,5 milhões no projeto voltado para o atendimento humanizado às gestantes, sem a utilização, por exemplo, de medicamentos para indução e aceleração do nascimento. Esses locais contarão com banheiras para o parto na água, técnica que ajuda na dilatação do colo do útero.
O Ministério da Saúde ainda não apresentou uma meta regional, mas a Secretaria da Saúde do Paraná vislumbra equipar pelo menos 22 hospitais com os novos centros. "A ideia é ter uma casa de parto em cada regional. Até julho, já deveremos ter habilitado hospitais de Curitiba, Guarapuava, Londrina e Maringá", diz a enfermeira Olga Peterlini, uma das coordenadoras do programa Mãe Paranaense.
Barreira cultural
Apesar do respaldo ao projeto, Olga ressalta que há uma barreira cultural para que o Mãe Paranaense reduza as cesáreas. "Nosso objetivo é uma redução de 2% ao ano. Mas por medo e falta de informação, a gestante não quer o parto normal. É uma questão que vem desde a década de 1970, com a expansão das maternidades."
Etelvino Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, não vê as casas de parto como a única solução para reduzir a quantidade de cesáreas.
"Hoje, justamente na chamada idade ideal, entre 20 e 30 anos, as mulheres não querem ter filho. Como há muitas gestações de alto risco, a cesárea acaba sendo a saída para esses casos."
Descrédito compartilhado por Margareth Arilha, pesquisadora em Saúde Reprodutiva da Unicamp. "É uma iniciativa válida, mas tímida. A cesárea é um fenômeno antigo e crônico no país. Para diminuí-la, precisaríamos mudar concepções culturais e econômicas junto à população e à classe médica, que prefere esse procedimento por ele ser mais rápido e prático, mesmo que traga mais riscos à saúde da mãe e do bebê".
Procedimento humanizado e "sem dor"
Apesar de já ter passado por dois partos normais, Angélica Molina Sanches, 24 anos, nunca havia ouvido falar em parto humanizado. Pelo menos até o início do segundo semestre do ano retrasado, quando engravidou do seu terceiro filho. Conheceu o procedimento durante o pré-natal, aceitou passar por ele e diz não se arrepender.
"O tratamento é muito diferente. As enfermeiras ficam sempre juntas, assim como nossa família. Meu parto foi sem dor e demorou pouco mais de duas horas", conta a diarista sobre o parto de Marco Antônio, que completará um ano no próximo dia 13.
Opinião semelhante tem Jéssica Kriguer, 33, que também teve o terceiro filho após um parto natural na Casa de Parto da cidade dos Campos Gerais. "Se eu soubesse desse parto, teria meus três filhos assim. Teve uma pequena complicação no final, porque o André Luiz [hoje com um ano e sete meses] nasceu com o cordão umbilical dando duas voltas no pescoço, mas o médico foi muito eficiente e conseguiu desenrolar rapidamente", comenta a dona de casa.