Complicações
Cesárea é cirurgia de alto risco, dizem especialistas
A cesárea é uma cirurgia de alto porte e que deve ficar reservada aos casos em que o parto normal é inviável. Em partos de alto risco, porém, o procedimento pode salvar vidas.
"As taxas de complicação em cesáreas são maiores e estão associadas ao sangramento, infecção e complicações como a ruptura uterina. Além disso, os casos de taquipneia transitória [distúrbio respiratório] estão associados aos partos cirúrgicos", explica Paulo Nassar, responsável pelo setor de medicina fetal do Instituto Fernandes Figueira, órgão dedicado à saúde da mulher e da criança.
Mas, segundo a enfermeira Olga Peterlini, uma das coordenadoras do programa Mãe Paranaense, o procedimento é importante. "A cesariana veio para salvar tanto o bebê quanto a mulher, mas sua realização depende de uma avaliação clínica daquele momento. Nossa crítica, hoje, é que ela é pré-marcada e isso é prejudicial, porque antecipa o parto".
Três médicos até o diagnóstico definitivo
Após o quarto mês de gestação, Gesiane Souza, 30 anos, descobriu por meio de um ultrassom que o seu terceiro filho, nascido há quatro anos, tinha um problema em um dos rins e que isso inviabilizaria o parto normal.
Segundo Gesiane, porém, o diagnóstico foi do terceiro profissional consultado por ela. Os dois anteriores, ambos em atendimento pelo serviço público, haviam insistido no parto normal. "Bastava uma opinião. Não iria colocar meu filho em risco", alega.
Professora de artes, Gesiane realizou a cesárea na Maternidade Mater Dei, em Curitiba, com o mesmo médico que diagnosticou a necessidade da cirurgia. Marco Antônio nasceu saudável e sem qualquer vestígio do problema que a impediu de passar pelo parto normal. "Deve ter tido um erro na leitura dos exames. Meu marido comenta até hoje que poderíamos ter morrido em um parto normal. Mas depois que ele nasceu com saúde, resolvemos não mexer com isso e jogamos tudo para o alto", afirma.
Metas
Os Centros de Parto Normal pretendem também reduzir a mortalidade materna, uma das metas a serem cumpridas dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O desafio é reduzir até 2015 em 75% o número de óbitos registrados em 1990. Em 2010, o total estava em 68 a cada 100 mil. A meta é diminuir para menos de 35 óbitos. No Paraná, onde o índice precisa cair para 22 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, a taxa estava em 51 óbitos em 2011.
Novidade
Alvo de polêmica em 2009, os novos Centros de Parto Normal que serão construídos pelo Governo Federal agora contarão com médicos obstetras. Naquele ano, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro conseguiu liminares na Justiça que fecharam um desses locais justamente pela falta de médicos.
De acordo com a Portaria 904/2013, do Ministério da Saúde, o estabelecimento hospitalar que abrigar os centros de parto deverá garantir retaguarda 24 horas composta por médicos obstetra e anestesista.
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Procedimento recorrente na rede particular, a cesárea é cada vez mais comum também em hospitais públicos ou conveniados ao Sistema Único de Saúde. Em todo o país, nos últimos três anos, o porcentual de mulheres que optaram pela cirurgia no momento do parto realizado pelo SUS saltou de 36,7% para 40,1%. No Paraná, no mesmo período, a taxa passou de 35,4% para 41,6% crescimento de 6%, contrariando meta do programa Mãe Paranaense de reduzir as cesáreas em 2% ao ano.
INFOGRÁFICO: Cesárea é cada vez mais requisitada por gestantes
Esses índices ultrapassam os 15% preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o relatório Situação Mundial da Infância, divulgado pela Unicef em 2011, entre os países membros da OMS, além do Brasil, apenas Itália, México, Irã e República Dominicana tem índices acima dos 40%.
Projeto
Para tentar frear esse avanço, na última semana o governo federal anunciou que até o ano que vem pretende implantar 280 Centros de Parto Normal em hospitais da Rede Cegonha. Segundo o Ministério da Saúde, serão investidos R$ 165,5 milhões no projeto voltado para o atendimento humanizado às gestantes, sem a utilização, por exemplo, de medicamentos para indução e aceleração do nascimento. Esses locais contarão com banheiras para o parto na água, técnica que ajuda na dilatação do colo do útero.
O Ministério da Saúde ainda não apresentou uma meta regional, mas a Secretaria da Saúde do Paraná vislumbra equipar pelo menos 22 hospitais com os novos centros. "A ideia é ter uma casa de parto em cada regional. Até julho, já deveremos ter habilitado hospitais de Curitiba, Guarapuava, Londrina e Maringá", diz a enfermeira Olga Peterlini, uma das coordenadoras do programa Mãe Paranaense.
Barreira cultural
Apesar do respaldo ao projeto, Olga ressalta que há uma barreira cultural para que o Mãe Paranaense reduza as cesáreas. "Nosso objetivo é uma redução de 2% ao ano. Mas por medo e falta de informação, a gestante não quer o parto normal. É uma questão que vem desde a década de 1970, com a expansão das maternidades."
Etelvino Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, não vê as casas de parto como a única solução para reduzir a quantidade de cesáreas.
"Hoje, justamente na chamada idade ideal, entre 20 e 30 anos, as mulheres não querem ter filho. Como há muitas gestações de alto risco, a cesárea acaba sendo a saída para esses casos."
Descrédito compartilhado por Margareth Arilha, pesquisadora em Saúde Reprodutiva da Unicamp. "É uma iniciativa válida, mas tímida. A cesárea é um fenômeno antigo e crônico no país. Para diminuí-la, precisaríamos mudar concepções culturais e econômicas junto à população e à classe médica, que prefere esse procedimento por ele ser mais rápido e prático, mesmo que traga mais riscos à saúde da mãe e do bebê".
Procedimento humanizado e "sem dor"
Apesar de já ter passado por dois partos normais, Angélica Molina Sanches, 24 anos, nunca havia ouvido falar em parto humanizado. Pelo menos até o início do segundo semestre do ano retrasado, quando engravidou do seu terceiro filho. Conheceu o procedimento durante o pré-natal, aceitou passar por ele e diz não se arrepender.
"O tratamento é muito diferente. As enfermeiras ficam sempre juntas, assim como nossa família. Meu parto foi sem dor e demorou pouco mais de duas horas", conta a diarista sobre o parto de Marco Antônio, que completará um ano no próximo dia 13.
Opinião semelhante tem Jéssica Kriguer, 33, que também teve o terceiro filho após um parto natural na Casa de Parto da cidade dos Campos Gerais. "Se eu soubesse desse parto, teria meus três filhos assim. Teve uma pequena complicação no final, porque o André Luiz [hoje com um ano e sete meses] nasceu com o cordão umbilical dando duas voltas no pescoço, mas o médico foi muito eficiente e conseguiu desenrolar rapidamente", comenta a dona de casa.
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