Enquanto no Brasil o volume de transplantes de órgãos com doador falecido cresceu, em média, 24,3% no primeiro semestre deste ano, no Paraná o avanço no período foi de apenas 6%. Os dados são do Ministério da Saúde, que informa terem sido realizados 2.099 procedimentos no país, nos primeiros meses de 2009, 411 a mais do que no mesmo período do ano passado.
Com o desempenho abaixo da média nacional, o Paraná caiu da 4.ª para a 6.ª posição no ranking de estados que mais realizam transplantes. A queda se deve à melhora de resultados apresentados por outros estados.
De acordo com o Ministério da Saúde, os investimentos realizados pelo governo nessa área contribuíram com esse crescimento. Foram investidos cerca de R$ 824,2 milhões no ano passado. A ampliação do número de unidades habilitadas para a realização de transplantes nos últimos dez anos também ajudou a melhorar as estatísticas. Em 1999, existiam 140 unidades. Hoje, o número saltou para 532.
No total, o Paraná fez 115 transplantes na primeira metade de 2009, contra 108 no mesmo período do ano passado. O número fez o estado empatar com Pernambuco que apresentou um aumento de 29% e ficar atrás de São Paulo (988), Rio Grande do Sul (179), Minas Gerais (174), Santa Catarina (135) e Ceará (117). O Rio Grande do Sul e Minas Gerais, embora continuem no topo da lista, também tiveram queda no número de transplantes, de 37% e 17% respectivamente.
Alguns estados do Norte e Nordeste do país registraram melhoras expressivas. O Ceará, por exemplo, teve um aumento de 62% no número de procedimentos. Já o Amazonas, que no primeiro semestre de 2008 não tinha realizado nenhum transplante de órgão com doador falecido, fez 12 entre janeiro e julho deste ano.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), houve um crescimento de 20% de doadores efetivos no semestre, atingindo 8,6 por milhão de população (pmp). Durante o mesmo período de 2008, o número chegou a 7,2 pmp. Segundo a entidade, o crescimento de doadores foi obtido em 14 estados, incluindo o Paraná.
Rins
Segundo os dados nacionais, os transplantes renais de doador falecido tiveram o maior aumento, de 30,28%. Os de fígado vêm em segundo lugar, com um aumento de 23,1%. Já os transplantes de coração diminuíram 2% e de pulmão, 15%.
No Paraná, os transplantes de rim também são os mais frequentes. Em 2009, foram realizados 71 procedimentos com doador falecido, 15 a mais do que em 2008.
O estado, entretanto, continua com as maiores taxas de transplantes com doador vivo (21%). No semestre anterior, realizou 96 transplantes com doadores vivos, 25 a mais do que com doadores falecidos.
Os estudos revelam que, em comparação ao ano passado, houve uma redução de 3% de doadores vivos e um aumento de 20% de doadores falecidos em todo o país. Os índices apresentados pelo Paraná contrariam a tendência nacional. O objetivo da ABTO é justamente melhorar a captação de doadores cadáveres, aumentando a oferta desses órgãos. Só assim será possível equilibrar a lista de espera dos transplantes, já que o número de doadores vivos é muito mais limitado.
A técnica em enfermagem Elaine Aparecida Padilha, 47 anos, foi submetida a um transplante renal há pouco mais de quatro meses. Ela já nasceu sem um dos rins. O outro teve as suas funções comprometidas por causa da hipertensão. Ao contrário de muitos companheiros de hemodiálise, Elaine esperou apenas nove meses por um doador. "Sei, pela experiência de outros, que poderia ter demorado muito mais. Tive sorte porque a hemodiálise estava me causando muitos problemas, a minha única solução era realizar a cirurgia e esperar pelo órgão de um doador falecido", conta.
Exemplo
O nefrologista Miguel Carlos Riella, da Fundação Pró-Renal, acredita que, embora países como os Estados Unidos e a Espanha apresentarem número de doações acima de 20 e 30 pmp, muito maior que do Brasil, o maior problema do país não é a falta de doadores, mas sim a pouca agilidade do processo de captação de órgãos.
Ele cita o modelo utilizado por Santa Catarina como um exemplo a ser seguido. Riella conta que no estado vizinho ocorre a monitoração constante das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para identificar doadores em potencial, existe maior agilidade no diagnóstico de morte cerebral, bem como maior rapidez na retirada e no transporte dos órgãos. "Uma equipe dedicada, motivada e bem treinada também é essencial para poder otimizar o processo. No Paraná, tentamos criar uma Organização de Procura de Órgãos (OPO), um órgão auxiliar na captação de doadores, mas não obtivemos sucesso", lembra.