• Carregando...
Carlos Humberto (à frente) diz já ter perdido muitos colegas e nunca viu alguém punido pelo crime | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Carlos Humberto (à frente) diz já ter perdido muitos colegas e nunca viu alguém punido pelo crime| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Incógnitos

Curitiba não dispõe de censo atualizado sobre sua população de rua

O último dado de conhecimento da Prefeitura de Curitiba sobre a presença de moradores de rua em vias da cidade remete a 2008, quando um censo coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social apontou para a existência de 2,7 mil pessoas em situação de rua na capital paranaense.

Segundo o MNPR-PR, porém, esse número já é muito maior. "Temos, pelo menos, 4 mil morando nas ruas em Curitiba", diz Frank Silva, 38, coordenador municipal do movimento.

De acordo com a Fundação de Ação Social (FAS), órgão comandado pela primeira-dama Macia Fruet, a prefeitura mantém 565 vagas em abrigos próprios ou conveniados e que, no passado, foram realizados 3.014 atendimentos à população de rua. Em 2.042 deles, segundo a administração municipal, os atendidos informaram ter vínculo familiar.

Na última semana, dois homens foram mortos e outro teve 53% do corpo queimado em três bairros diferentes de Curitiba. Em comum, a falta de endereço e identificação das vítimas aponta para o recrudescimento da violência contra moradores de rua. Somente no ano passado, de acordo com casos relatados pela Gazeta do Povo, nove pessoas que vivem nas ruas de Curitiba foram vítimas de violência – quatro delas morreram e cinco foram espancadas ou tiveram o corpo incendiado.

Os números da violência contra essa população, porém, podem ser ainda maiores. Segundo o Movimento Nacional da População de Rua do Paraná, 73 moradores de rua morreram no estado inteiro entre janeiro e outubro do ano passado – 60 dos casos foram de morte violenta.

Os dados, de acordo com Regiane da Silva Kieppe, 39, uma das coordenadoras do MNPR-PR, são resultado do cruzamento de informa­­ções de órgãos oficiais. "Pegamos as informações do Disque 100 [serviço de denúncias da Presidência da República] e dos órgãos policiais", afirma.

Responsável pelas investigações dos casos curitibanos, o titular da Delegacia de Homicídios, Rubens Re­­calcatti, aponta para um número menor. "Na capital, no ano passado, foram cinco casos. A maioria está relacionada com brigas entre membros do próprio grupo", afirma o delegado, que admite encontrar dificuldades na apuração desses casos. "Falta referência pessoal da própria vítima", justifica.

A motivação justificada por Recalcatti, porém, é rebatida por quem está na linha de frente da situação. "Em qualquer classe social há briga. Mas nós somos vítimas da intolerância da sociedade. Tem filho de família classe média que vê uma pessoa no papelão e desce do apartamento dele só para espancar o morador de rua", afirma o paulista Antônio Ricardo Coelho de Assis, 36, que mora nas ruas do centro curitibano há quase 20 anos.

Carlos Humberto dos Santos, o Pulga, vai além. "Já perdi inúmeros colegas na rua e nunca vi alguém ser considerado culpado. Mesmo que o assassino seja um morador de rua, ele precisa ser preso pelo crime que cometeu", diz o curitibano de 43 anos, que não se separa de outros quatro moradores de rua. "Temos de andar em grupo para nos proteger", afirma.

IdentificaçãoApenas uma das três vítimas deste ano já foi identificada

Dos três casos da última semana, em apenas um houve a confirmação da polícia de que a vítima era moradora de rua. Segundo a Delegacia de Homicídios, trata-se do caso registrado no dia 17, no Cajuru, no qual Daniel Gonçalves Ramos, sem idade revelada, foi morto após sem atingido com uma pedra na cabeça.

Com uma morte parecida, também no mesmo dia, um homem foi encontrado com ferimentos na cabeça na Rua Bley Zornig, no Boqueirão. À época, a Polícia Militar informou que havia a suspeita de que a vítima era moradora de rua, mas as investigações da Polícia Civil ainda não confirmaram a informação.

Um dia antes, um homem ainda não identificado foi encontrado com 53% do corpo queimado na Rua Euclides Bandeira. De acordo com o Hospital Evangélico, ele ainda está na UTI, mas seu estado é estável.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]