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As mortes em conflitos no campo mais que dobraram no Brasil em 2005, na comparação com o ano anterior, passando de 31 para 64 – dessas ocorrências, 38 foram assassinatos. Os números estão no livro Conflitos no Campo Brasil, lançado ontem em Brasília pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). A entidade, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, lançou ainda em Curitiba o livro Desterro, uma cronologia da violência no campo no Paraná na década de 90. Protagonista nas duas publicações, o estado é o quinto do país em número de conflitos, o quinto em desocupações, o terceiro em acampamentos de sem-terra e o segundo em despejos.

Conforme o estudo da CPT, o número de conflitos no campo em 2005 foi o maior dos últimos 20 anos. Foram 1.881 em todo o país, 4,4% a mais do que 2004. Numa avaliação genérica da CPT, conflito é toda ação que viola os direitos dos trabalhadores rurais. A entidade chegou a criar o "índice de conflitividade" para medir o tamanho do problema, levando em conta o número de conflitos no estado, a população rural e a proporção de conflitos no cenário nacional. A tabela tem um indicador para começar, mas não para terminar (número máximo). De 1 a 2 é considerado alto, de 2 a 4 é muito alto e acima disso, altíssimo. O Paraná é o quinto do país e lidera o ranking na região Sul com índice de 1,32, contra 1,11 do Rio Grande do Sul e 1,04 de Santa Catarina. A CPT constatou que o número é maior nos estados onde cresce e se expande o agronegócio, que, em síntese, na leitura dos sem-terra quer dizer monocultura, latifúndio e produção para exportação.

Os conflitos no campo também se deram na forma de despejos. E nunca se despejou tanta gente. Foram 4.366 famílias expulsas da terra, aumento de 42,5% se comparado a 2004. Na outra ponta do movimento sem-terra, as ocupações tiveram queda de 11,8%. Na opinião do coordenador da CPT-Paraná, Dionísio Vandresen, essa diminuição decorre da frágil e tímida política de reforma agrária do governo Lula. "As famílias cansam de esperar a área que nunca chega", diz.

Apesar disso, houve mais ocupação do que no governo anterior. Calculada por dia, a média de ocupação foi de 0,7 na gestão Fernando Henrique Cardoso e é de 1,2 no governo Lula. No atual, assenta-se, em média, 81.430 famílias por ano, contra 65.548 no governo anterior. Mas a CPT aponta o "processo de autofagia" em curso na política de reforma agrária. Nos três anos do atual governo, só 25% das famílias (61.087) foram assentadas em terras desapropriadas. As outras foram colocadas em assentamentos já existentes ou em terras públicas.

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