A cobiça pelas terras férteis da União nas margens do Rio Araguaia, no Nordeste de Mato Grosso, divisa com Goiás, resultou em incêndios de casas, tiros, ameaças de morte e fechamento de uma cidade. Um grupo de grileiros e fazendeiros provocou um badernaço neste fim de semana em Luciara, cidade de 2 mil habitantes, a 1.161 quilômetros de Cuiabá, para protestar contra um projeto do governo federal de criar uma reserva de desenvolvimento sustentável na região.
De sexta-feira, 20, a domingo, 22, os grileiros bloquearam a rodovia MT-100, única via de acesso à cidade, com pneus e pedras e fizeram uma série de ameaças a ambientalistas e defensores da proposta da reserva. Pessoas não identificadas incendiaram as casas do vereador Jossiney Evangelista Silva (PSDB) e do líder camponês Rubem Salles. Na noite de domingo, foram disparados tiros na casa do diácono José Raimundo Ribeiro, da Paróquia Nossa Senhora das Graças. O comércio fechou na sexta-feira e só reabriu na manhã desta segunda, 23. Uma parte dos comerciantes defende a manifestação dos grileiros.
O clima na cidade é de guerra. O vereador Jossiney Evangelista Salles, que teve a casa incendiada no domingo, relata que está sendo ameaçado por defender a criação da reserva. Ao passar por um bloqueio na rodovia em companhia de quatro policiais militares, ele foi alvo de ataques verbais de um grupo de grileiros. "Sofri agressões. Eles partiram para cima, fiquei com medo", afirma. "Não sei quem pôs fogo na minha casa. Só sei que a polícia deveria ser mais ágil nessa questão."
Há mais de um século, caboclos conhecidos por "retireiros" vivem da criação coletiva de gado em Mato Verdinho, uma terra da União na beira do Araguaia. Em 1999, um grupo de famílias criou a Associação dos Retireiros do Araguaia (ARA) para garantir a permanência no local e frear o avanço de pecuaristas que começaram a chegar do Paraná e do Rio Grande do Sul. Atualmente, a entidade defende direitos de 97 famílias, num total de 450 pessoas, que seriam beneficiadas pela criação da reserva.
A presença de pecuaristas e grileiros em Mato Verdinho passou a alterar a vida da comunidade dos "retireiros" a partir do fechamento do acesso de lagos e trechos do rio. O projeto da reserva está sendo desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e conta com o apoio de entidades de direitos humanos e sindicatos de pequenos agricultores de Mato Grosso e de Goiás.
A baderna do fim de semana contou com apoio de pessoas influentes da cidade, reclamam defensores da criação da reserva. Faixas com frases de repúdio ao trabalho de ambientalistas e técnicos do ICMBio foram espalhadas pelo centro de Luciara. "Os grileiros estão fazendo uma arruaça na cidade", afirma Rubem Salles, o Rubão, que hoje preside a ARA. "Eles inventaram que a criação da reserva vai atingir todo o município e obrigar fazendeiros de outras regiões de Luciara a irem embora", completa.
Rubão observa que as terras das margens do rio são cobiçadas pelos pecuaristas por causa da qualidade do pasto natural, que ganha reforço com os sedimentos trazidos pelas águas do Araguaia em tempo de cheia. Um comércio ilegal de venda de terras da União funciona em Luciara. "Os grileiros do Sul do Brasil correram para cá", constata o líder da associação. "Vamos defender nosso direito de permanecer aqui."
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