“Assim que o médico prescrever o antibiótico, é importante que a primeira dose seja dada imediatamente, antes mesmo de ser iniciado um processo de internamento. Retornar para a casa e deixar para comprar a medicação depois é um risco e isto aumenta o índice de mortalidade.” Nelson Arns Neumann, coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança| Foto: Antonio More/Gazeta do Povo

O acúmulo de secreções nas vias respiratórias e o comprometimento das funções pulmonares são sintomas típicos da pneumonia bacteriana, doença muito comum em crianças. Se não for tratado rapidamente, esse quadro pode avançar para uma infecção generalizada no organismo e causar a morte do paciente. Para evitar que isso aconteça, a Pastoral da Criança lançou ontem, em Curitiba, a campanha nacional "Antibiótico – primeira dose imediata". O objetivo é incentivar que o antibiótico seja ministrado ainda na unidade básica de saúde (UBS), logo após a prescrição do médico. Quanto antes o tratamento for iniciado, mais ágil e eficiente será o combate à bactéria.

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"Queremos fazer com que as mães tenham uma atitude mais firme no serviço de saúde e cobrem o direito da criança de receber a medicação ali mesmo. Isto não exige custos, pois é uma questão de tornar o tratamento viável, adequando o serviço prestado pelos médicos e incentivando o poder público a criar um protocolo para o uso destes medicamentos para que isto se torne uma rotina das unidades de saúde", explica Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista e coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a pneumonia é a causa de cerca de 350 mil internamentos por ano no Brasil entre crianças de 1 a 4 anos de idade. Além disso, anualmente, aproximadamente 4 mil crianças com menos de 5 anos morrem vítimas de infecções respiratórias. Arns explica que a campanha focou na pneumonia devido a maior incidência na população, mas a primeira dose de antibiótico deve ser administrada com rapidez – inclusive em adultos – também em casos de doenças como leptospirose e meningite, igualmente causadas por bactérias.

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De acordo com Arns, um levantamento feito pela Pastoral em cidades da Região Sul indicou que somente quatro em cada 10 crianças que necessitam de antibióticos para tratamento de pneumonia recebem a primeira dose no posto de saúde. "Assim que o médico prescrever o antibiótico, é importante que a primeira dose seja dada imediatamente, antes mesmo de ser iniciado um processo de internamento. Retornar para a casa e deixar para comprar a medicação depois é um risco e isto aumenta o índice de mortalidade", explica o epidemiologista.

No caso das crianças de zero a 6 anos, público-alvo da campanha da Pastoral que será veiculada em todos os meios de comunicação, a utilização do medicamento por uma equipe especializada na presença da mãe dá mais segurança para que o tratamento seja feito de forma contínua e correta em casa. O trabalho dos profissionais de saúde também pode ajudar de forma efetiva nos casos em que o paciente apresente alguma reação alérgica ao remédio.

Recomendação antiga

O uso do antibiótico logo após o diagnóstico é uma conduta recomendada pela Organização Mundial da Saúde desde 1997, mas que ainda não é seguida à risca no Brasil. Apesar de 73% das unidades básicas de saúde terem a medicação em estoque, apenas 37% delas fornecem a primeira dose de forma imediata diante de um diagnóstico de pneumonia.

"Ganhar de três a quatro horas em um tratamento pode salvar a vida de uma criança e reduzir a mortalidade em até 20%. Esta campanha é importante para que se entenda a importância da utilização correta de antibióticos, já que o uso de forma equivocada pode levar à resistência bacteriana", alerta o pediatra e professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná, Antônio Carlos Bagatim. Até que o medicamento seja utilizado, a doença continua a progredir. Por isso, para alcançar a cura, o tratamento também não pode ser interrompido antes do prazo definido pelos médicos.

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