O acúmulo de secreções nas vias respiratórias e o comprometimento das funções pulmonares são sintomas típicos da pneumonia bacteriana, doença muito comum em crianças. Se não for tratado rapidamente, esse quadro pode avançar para uma infecção generalizada no organismo e causar a morte do paciente. Para evitar que isso aconteça, a Pastoral da Criança lançou ontem, em Curitiba, a campanha nacional "Antibiótico primeira dose imediata". O objetivo é incentivar que o antibiótico seja ministrado ainda na unidade básica de saúde (UBS), logo após a prescrição do médico. Quanto antes o tratamento for iniciado, mais ágil e eficiente será o combate à bactéria.
"Queremos fazer com que as mães tenham uma atitude mais firme no serviço de saúde e cobrem o direito da criança de receber a medicação ali mesmo. Isto não exige custos, pois é uma questão de tornar o tratamento viável, adequando o serviço prestado pelos médicos e incentivando o poder público a criar um protocolo para o uso destes medicamentos para que isto se torne uma rotina das unidades de saúde", explica Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista e coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a pneumonia é a causa de cerca de 350 mil internamentos por ano no Brasil entre crianças de 1 a 4 anos de idade. Além disso, anualmente, aproximadamente 4 mil crianças com menos de 5 anos morrem vítimas de infecções respiratórias. Arns explica que a campanha focou na pneumonia devido a maior incidência na população, mas a primeira dose de antibiótico deve ser administrada com rapidez inclusive em adultos também em casos de doenças como leptospirose e meningite, igualmente causadas por bactérias.
De acordo com Arns, um levantamento feito pela Pastoral em cidades da Região Sul indicou que somente quatro em cada 10 crianças que necessitam de antibióticos para tratamento de pneumonia recebem a primeira dose no posto de saúde. "Assim que o médico prescrever o antibiótico, é importante que a primeira dose seja dada imediatamente, antes mesmo de ser iniciado um processo de internamento. Retornar para a casa e deixar para comprar a medicação depois é um risco e isto aumenta o índice de mortalidade", explica o epidemiologista.
No caso das crianças de zero a 6 anos, público-alvo da campanha da Pastoral que será veiculada em todos os meios de comunicação, a utilização do medicamento por uma equipe especializada na presença da mãe dá mais segurança para que o tratamento seja feito de forma contínua e correta em casa. O trabalho dos profissionais de saúde também pode ajudar de forma efetiva nos casos em que o paciente apresente alguma reação alérgica ao remédio.
Recomendação antiga
O uso do antibiótico logo após o diagnóstico é uma conduta recomendada pela Organização Mundial da Saúde desde 1997, mas que ainda não é seguida à risca no Brasil. Apesar de 73% das unidades básicas de saúde terem a medicação em estoque, apenas 37% delas fornecem a primeira dose de forma imediata diante de um diagnóstico de pneumonia.
"Ganhar de três a quatro horas em um tratamento pode salvar a vida de uma criança e reduzir a mortalidade em até 20%. Esta campanha é importante para que se entenda a importância da utilização correta de antibióticos, já que o uso de forma equivocada pode levar à resistência bacteriana", alerta o pediatra e professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná, Antônio Carlos Bagatim. Até que o medicamento seja utilizado, a doença continua a progredir. Por isso, para alcançar a cura, o tratamento também não pode ser interrompido antes do prazo definido pelos médicos.
* * * * *
Interatividade
Você acha importante ministrar o remédio ainda na unidade de saúde? Por quê?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora