Em pleno dia de Natal, nenhuma das bonecas e carrinhos dos irmãos Elisama, 9, e Gabriel, 11, podiam ser usados para brincar. Os dois também não ganharam novos presentes. Ontem, para Jandira Ferreira, 39, e Amadeus Ferreira, 38, os pais das crianças, foi dia de recuperar o que sobrou após a casa da família ter sido invadida pela enxurrada. "Eu não soube o que dizer quando minha irmã me ligou de manhã para desejar feliz natal. Lá, tinham feito um monte de comida e eu aqui não tinha nem feijão pronto. Acabamos de comer qualquer coisa", disse Jandira, às 17 horas.
Apesar do relato carregado de tristeza, era gratidão o que sentiam vizinhos e amigos. Eles só pensavam que poderia ter sido pior. Elisama e Gabriel estavam sozinhos em casa, quando a chuva atingiu fortemente Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. Era antevéspera de Natal e os vizinhos ajudaram as crianças. De repente, em questão de minutos, todos se viram mergulhados na água suja da enchente. Escadas foram colocadas no muro para resgatar os irmãos. Para os pais, esse fato torna a tarefa de conseguir novos colchões, toalhas, panelas, eletrodomésticos e documentos o menor dos problemas.
A família mora na Rua Valente Cury, no Jardim Saara, e se soma aos 134 desabrigados e desalojados no estado. A Defesa Civil estadual estima que mais de 58 mil pessoas tenham sido afetadas em 13 cidades. Ao todo, 729 casas foram danificadas.
Entre os municípios prejudicados está Rio Branco do Sul. Na Rua Padre Ribeiro, no Centro, em uma casa elevada a cerca de 2 metros do nível de um córrego, a marca na parede denuncia que a água subiu cerca de 3,5 metros acima da calha do riacho. O casal Cristiane Druz, 36, e Sandro Moreti, 43, passou por momentos de desespero. Eles estavam com duas duas crianças e uma adolescente em casa. Sandro, que tem problemas nas pernas, e o restante da família tiveram que buscar abrigo rapidamente em cima de uma mesa e cortar o forro de PVC com uma faca para escapar da água.
"Eu gritava por socorro, na janela. Os bombeiros vieram nos buscar com um barco. Eu saí de casa em uma maca", contou Sandro, de volta à garagem da casa. O carro da família ficou coberto de água e quase foi levado pela enxurrada. "Eu vim para a varanda, desengatei a marcha e empurrei para frente. Senão, tinha ido embora", completou Cristiane. Sandro comenta que já tinha enfrentado enchentes, mas que o nível nunca ultrapassava o portão de casa. "Agora vamos ver se achamos outro lugar para morar. Não posso ver uma nuvem no céu e já fico com medo", conta.
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