Distância
Atendimento longe de casa também causa transtorno familiar
A coordenadora da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Maringá, Janaína Mantovani, salienta que o tratamento longe de casa também causa transtorno familiar. Ela pontua que, na maioria dos casos, a família precisa se dividir em quem irá acompanhar a criança em tratamento e quem irá cuidar dos outros filhos que ficam na cidade natal. "O que a gente percebe é que muitas vezes quem mais sofre é quem fica." Por isso, ela afirma que a criança afastada da mãe, pai ou do irmão doente pode precisar de um acompanhamento psicológico mais próximo. "Se o tratamento acontecesse na cidade ou nas proximidades de onde a família vive, nada disso iria acontecer. As autoridades precisam ter a sensibilidade que não é só uma questão de custo, mas de vidas que se desestruturam na tentativa de salvar um ente doente."
Crianças diagnosticadas com câncer na terceira maior cidade do Paraná precisam se deslocar com frequência até Londrina ou Curitiba para receber o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde 2009, o serviço de oncologia infantil em Maringá está suspenso. Nesse período, ele chegou a ser oferecido pelo Hospital do Câncer (HC) da cidade, mas voltou a ser interrompido por causa da falta de ala e UTI pediátricas. Atualmente, cerca de 70 crianças dos 30 municípios da Região Noroeste que compõem a 15.ª Regional de Saúde necessitam de atendimento.
Famílias que enfrentaram a experiência de tratar a doença longe de casa afirmam que o deslocamento torna o processo ainda mais complicado e desgastante. O pedreiro Davi Santos lembra que ele e a mulher tiveram de abandonar os empregos durante os dez meses em que o filho Matheus, de 8 anos, foi tratado em Curitiba. O menino teve leucemia e câncer nos testículos.
Santos diz que no período contou com o apoio financeiro recebido durante o período: R$ 900 da prefeitura de Maringá; auxílio moradia e alimentação, fornecidos pela Rede Feminina de Combate ao Câncer; e transporte, disponibilizado pelo município de Curitiba. Além disso, lembra que o SUS também arcou com as despesas médicas pós-transplante de medula óssea. Segundo ele, na época, algumas doses dos remédios chegaram a custar R$ 5 mil. "Eu teria feito qualquer coisa pra salvar o meu filho. Mas sendo bem claro, eu não tinha dinheiro para arcar com uma despesa como essa."
Bombeirinho
Ana Paula Estevan, mãe de João Daniel de Barros, que ficou conhecido como João Bombeirinho, também reafirma a importância do apoio externo para arcar com as despesas do período de tratamento na capital contra a leucemia. "Fiquei sozinha com meu filho por cinco meses em Curitiba. Então, dependia diretamente da ajuda dos outros para fazer tudo, até para ir ao mercado." João, na época com 6 anos, estava internado no HC de Maringá quando o serviço de oncologia infantil foi interrompido. Ana Paula conta que recebeu apenas a orientação para que buscasse o tratamento particular ou o serviço público em Curitiba. "Mas fomos pegos tão de surpresa que nem sabíamos como agir".
Inauguração de ambulatório vira esperança
A abertura do ambulatório de oncohematologia pediátrica do Hemocentro Regional de Maringá, ligado ao Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), na semana passada deve ser o primeiro passo na tentativa de retomar o serviço de oncologia infantil na cidade, segundo a diretora do Hemocentro, Sílvia Tintori.
Sílvia explica que, inicialmente, o local irá oferecer o diagnóstico de câncer em adultos e crianças, além de transfusão e tratamentos de outras doenças do sangue, como hemofilia e anemia. Segundo a diretora do Hemocentro, apesar da falta de médicos e equipamentos específicos para o tratamento do câncer infantil, o ambulatório irá possibilitar o tratamento emergencial para aqueles que já estão em tratamento. "Se antes uma criança com febre precisava ser deslocada às pressas para Curitiba para ser analisada por um oncologista, agora teremos pelo menos dois profissionais para realizar este tipo de atendimento aqui."
Apesar da expectativa de que o tratamento oncológico infantil seja retomado em 2014, o diretor da 15.ª Regional de Saúde, Kazumichi Koga, é cauteloso em estabelecer prazos. "Esse é um processo demorado, precisa de muitos investimentos em aparelhagem e, especialmente, em capital humano."
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