Crianças de famílias pobres podem ser alvo mais fácil de pedófilos porque sofrem várias formas de carência social e individual. Segundo o coordenador do programa Campanha Mato Grosso do Sul contra a Pedofilia, Angelo Motti, esse panorama foi, por exemplo, encontrado nos casos de abuso sexual que podem ter vitimado cerca de 40 crianças na cidade de Catanduva, interior de São Paulo.

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São pessoas menos protegidas pela informação e que podem se subjugar ao outro pela necessidade de subsistência. Elas também têm necessidade de ser conhecidas e sofrem com a carência de identidade, descreveu o psicólogo, em entrevista Agência Brasil.

Motti disse que essa parcela da população sofre também com a falta de educação sexual nas escolas públicas. É fundamental discutir a sexualidade nas escolas, até porque ocorre uma distorção da sexualidade na mídia e na propaganda nos dias de hoje, afirmou o psicólogo.

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Para ele, a escola é importante tanto na prevenção quanto no combate pedofilia. Geralmente, é em no ambiente escolar que ocorre a identificação de um caso de abuso sexual. A escola é o grande caminho, disse o psicólogo, ressaltando que atualmente os estabelecimentos de ensino não estão preparados para identificar prevenir ou combater os casos de violência sexual.

De acordo com Motti, a violência contra a criança deriva principalmente do fato de a sociedade hoje estar formada e baseada numa estrutura em que a criança é tratada como um objeto ou um ser inferior, que depende do adulto.

Há uma cultura de desrespeito criança. Só se pensa na criança quando ela é uma consumidora. É natural que crianças e adolescentes dependam dos adultos, e a própria lei prevê a obrigação de todos os adultos de garantir a proteção integral dos direitos deles, inclusive os direitos sexuais. Isso as torna automaticamente dependentes das atitudes dos adultos.

O psicólogo defendeu uma reflexão sobre como administrar essa dependência se as crianças e adolescentes são tratados como seres inferiores aos adultos, como objetos e não como pessoas plenas de direitos e capazes de manifestar opinião, necessidades e desejos e como propriedade dos adultos. Se os tratamos assim, estamos por por certo administrando essa dependência no sentido avesso ao que a lei propõe, e isso é maléfico para eles [crianças e adolescentes] e para a própria sociedade, afirmou.

Nessa forma de dependência contrária lei, a criança se torna uma vítima mais fácil para os crimes de violência sexual praticados por um adulto. Nessa relação de dependência, a criança pode virar objeto de satisfação para o adulto, seja no mundo das artes, da propaganda ou até da violência sexual.

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No caso de violência sexual, a criança geralmente demonstra que foi vítima de abuso apresentando mudanças no comportamento familiar e social. Segundo o psicólogo, a criança pode apresentar sinais como desinteresse ou excessivo interesse por assuntos envolvendo a sexualidade; desinteresse pelos estudos ou atividades culturais e desportivas; sentimento de culpa elevado; atitudes agressivas com pessoas amadas ou amigas; redução drástica imunidade; melancolia e choro sem motivo aparente e até o desenvolvimento de enfermidades sem nenhuma explicação adequada para isso.

De acordo com Motti, o tratamento da criança, nesse caso, será voltado principalmente para a exploração dos potenciais e da capacidade de superar a violência da qual foi vítima. O tratamento é geralmente multiprofissional - reunindo psicólogos, médicos, assistentes sociais e pedagogos e não tem tempo determinado para terminar.

Vai depender muito da história de vida da vítima - incluindo sua vida afetiva e as condições sociofamilares em que ela se encontre. Logicamente, as marcas da violência sexual não serão superadas, qualquer que seja o tempo, mas suas conseqüências podem, sim, ser trabalhadas com resultados positivos em dois anos de trabalho.