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As regiões de fronteira do Norte do Brasil são uma terra sem lei quando se trata da exploração sexual de crianças e adolescentes. Essa é uma prática disseminada em toda a região e as autoridades fazem vistas grossas em relação ao problema.

A falta de efetivo policial é a principal desculpa alegada quando as Polícias Federal, Militar e Civil são questionadas. Os agentes tem como foco principal em seu trabalho o tráfico internacional de drogas e o contrabando. O tráfico de seres humanos acaba ficando em segundo plano.

Os repórteres da Gazeta do Povo Mauri König e Albari Rosa presenciaram essa situação de horror. Eles percorreram, durante dois meses, 19 mil quilômetros, por sete estados brasileiros, entre Cáceres (Mato Grosso) e Oiapoque (Amapá). Os relatos desse mergulho tenebroso nos confins do Norte do Brasil serão publicados, a partir de domingo, na Gazeta do Povo em forma de uma série de reportagens.

"As autoridades das fronteiras não estão preocupadas como o tráfico de pessoas, eles vêem isso como um problema menor", diz König. Segundo ele, as redes de exploração infantil se aproveitam dessa fragilidade. A Delegacia da Polícia Federal de Guajará-Mirim (RO), na fronteira com a Bolívia, por exemplo, tem um efetivo de 14 agentes para fiscalizar toda a região, uma zona crítica na rota do tráfico de drogas e no contrabando de carros roubados. "Poucos policiais fazem o trabalho de fiscalização, que piora ainda mais o quadro quando somado ao desinteresse das autoridades em relação à exploração infantil", afirma König.

A equipe da Gazeta visitou 31 pontos de prostituição e exploração infantil nos estados por onde passou (Mato Grosso, Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá). São locais conhecidos pela população. A situação que mais chocou o repórter fotográfico Albari Rosa foi um prostíbulo na Bolívia. Ele funciona num barraco de chão batido e telhado de palha. "Um lugar fedorento, com meninas muito novas que atendem os clientes 24 horas por dia. Deprimente", relata.

A série que será publicada na Gazea do Povo a partir de domingo, durante toda a semana da criança, intitulada "Infância no Limite", é a segunda parte de um grande projeto que iniciou-se no ano passado. Em novembro de 2004, König e Albari percorreram 9.200 quilômetros, entre o Chuí (RS) e Corumbá (MT), fazendo um levantamento das rotas da exploração e tráfico de crianças e adolescentes na fronteira Sul do Brasil.

O trabalho foi resultado do 2.º Concurso Tim Lopes para Projetos de Investigação Jornalística, promovido pela Agência Nacional dos Direitos da Infância (Andi) e Instituto WCF Brasil. As matérias tiveram grande repercussão e geraram ações efetiva para o combate do problema. Segundo a socióloga Marlene Vaz, comsultora da Andi, a implantação do Núcleo de Proteção à Criança e Adolescente Vítima de Exploração Social e Maus Tratos (Nucria), do governo do Paraná, só foi agilizada em virtude das matérias publicadas pela Gazeta do Povo.

Ações efetivas e prêmios de pesoA série da Gazeta foi produzida por um repórter acostumado a produzir matérias de grande repercussão as quais, além de ações efetivas por parte de órgãos governamentais, proporcionaram prêmios de peso ao jornal.

Mauri König acumula em seu currículo 11 prêmios, entre eles:Dois prêmios Esso regionais (2001 e 2004);Dois prêmios Vladimir Herzog (2001 e 2004);Prêmio Direitos Humanos da Sociedade Interamericana de Imprensa (2002);Prêmio Lorenzo Natali, da Federação Internacional dos Jornalistas e União Européia (2002);Título jornalista Amigo da Criança, concedido pela Andi (2003).

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