Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) retratam uma situação preocupante: cerca de 16,5 milhões de brasileiros, o que representa quase 10% da população, sofre de algum tipo de deficiência visual. Estima-se que, desse total, de 20% a 30% sejam crianças com alguma alteração na visão. Para prevenir ou garantir o tratamento precoce recomenda-se que os pais levem a criança para a primeira consulta oftalmológica por volta dos 3 ou 4 anos, isso se até então não for detectada nenhuma anormalidade.
Segundo o oftalmologista Otávio Siqueira Bisneto, do Hospital de Olhos, caso os pais tenham problemas oculares como estrabismo, grau alto de óculos ou visão baixa, deve-se fazer uma avaliação já nos primeiros anos de vida. Otávio explica que um exame feito logo após o nascimento, ainda na sala de parto, pode detectar a maioria das doenças congênitas ligadas à visão. O teste do olhinho, também chamado de teste do reflexo vermelho, é uma das grandes reivindicações dos oftalmologistas. "Queremos que seja obrigatória a realização desse teste em todas as maternidades. É um procedimento simples que pode ajudar a diminuir a elevada incidência de problemas de visão descobertos tardiamente", afirma.
Nos bebês, a visão ainda é pouco desenvolvida. Os recém-nascidos percebem apenas luz e vultos. Com o passar dos meses, se estiver tudo em ordem com os olhos, a visão será ampliada progressivamente e ao redor de sete anos estará totalmente desenvolvida. Antes dessa idade ainda é possível corrigir eventuais imperfeições. "Por isso é tão importante o diagnóstico precoce. Quanto mais cedo, maiores as chances de tratamento e de evitar problemas futuros", alerta a oftalmologista Ligia Pindanga.
Segundo ela, os cuidados devem começar ainda na gravidez, porque algumas doenças como toxoplasmose, sífilis e rubéola podem ocasionar complicações na visão no bebê. Males como glaucoma e catarata congênitos também necessitam de tratamento imediato, pois podem levar à cegueira. Outra situação que pode ocorrer é a criança nascer com o canal que leva a lágrima para o nariz entupido. O problema normalmente é tratado com massagens e uso de colírios antibióticos.
De acordo com a oftalmologista Pérola Iankilevich, o problema de visão mais comum entre crianças ainda é o estrabismo. Estima-se que atinja de 3% a 5% das crianças em idade escolar. Ela explica que os estrabismos podem ser corrigidos com óculos ou cirurgia.
A estudante Blessane Lima, 15 anos, sofria de estrabismo e se submeteu a uma cirurgia para corrigir o problema há pouco mais de um mês. Ela conta que começou a usar óculos ainda muito pequena, e que apesar de conseguir enxergar sem grande dificuldade, sempre se sentiu constrangida por causa das lentes muito largas. "É um alívio me livrar dos óculos. Apesar da cirurgia ter doído um pouco sei que vale a pena", comemora.