Aos 42 minutos do segundo tempo de Brasil e Holanda, o administrador de empresas Antonio Angelini Lopes, de 46 anos, duas empregadas e outras nove crianças vestidas com a camisa da seleção canarinho deram as mãos e rezaram o Pai-Nosso, ajoelhados diante da tevê. O grupo assistia à partida que desclassificou o Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, na sexta-feira, no apartamento de Lopes, nos Jardins, zona sul de São Paulo.Era a primeira copa da maioria dos meninos, todos ainda muito jovens, na faixa dos 7 aos 15 anos. O filho de Lopes, Otávio, de 10 anos, foi o primeiro a desabar no chão e romper o círculo de orações pela seleção. Pouco a pouco, os demais deixaram o choro vir à tona e cada um procurou um canto onde pudesse esconder a frustração da derrota brasileira. "O futebol ensina a administrar a paixão e a lidar com a frustração", pondera o administrador de empresas, que foi mais psicólogo da "molecada" do que brasileiro decepcionado com a eliminação antecipada. "É uma experiência construtiva, apesar de doer", diz.
Os sentimentos de perda e derrota são emoções das mais primitivas do ser humano, assim como a raiva e a alegria, segundo Karina Haddad Mussa, professora do curso de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "E a criança tem menos defesa, age mais por instinto. Como está menos preparada para enfrentar o mundo, sofre mais", explica.
De acordo com Karina, os pais não devem proteger os filhos dessas perdas, minimizando seu impacto ou comprando presentes. "Devem legitimar a dor que sentem e partilhar dela. Situações como essa (do Mundial) são ensaios para a vida adulta", diz. "Lidar com a frustração é algo que se aprende desde pequenininho, mas nossa sociedade não está preparada para lidar com as perdas e acha que as crianças não podem se frustrar", alerta Magdalena Mercedes Ramos, do Núcleo de Estudos de Casal e Família da PUCSP.
Para Karina Mussa, as emoções humanas são imprescindíveis para sua evolução e existência. "A frustração, por exemplo, nos leva a um estado de recolhimento e reflexão. A raiva nos move, nos faz seguir em frente", acredita.
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