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Para alunos da Escola Erasmo Pilotto, Curitiba merece de presente menos roubos, assaltos e violência. “Isso está refletindo a realidade deles”, diz a professora Joseane | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Para alunos da Escola Erasmo Pilotto, Curitiba merece de presente menos roubos, assaltos e violência. “Isso está refletindo a realidade deles”, diz a professora Joseane| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Opinião

A segurança do futuro se faz presente

Diante das inseguranças diárias, tem-se visto de forma clara e notória que a população quer algo que extrapole o mensurável. Pacotes de segurança pública, planos que privilegiam áreas nevrálgicas, como incremento no efetivo policial para operações sazonais, não bastam apenas para trazer a segurança para dentro e fora de casa.

Segurança pública ou insegurança tem sido uma área tão falada, porém tão pouco analisada em sua essência. Se por um lado pode estar restrita a comentários banais de quem se acha muitas vezes sabedor de fórmulas mágicas – fruto da própria trivialidade como o assunto é tratado –, também pode estar atrelada a bordões retóricos. Ninguém quer ouvir discurso, e sim uma prática que realmente resolva.

E o que parece complexo, pode ser simples se cada um fizer sua parte: cidadão e poder público. Ruas sem calçadas, paredes pichadas, áreas abandonadas e degradadas, denúncias que não têm resultados e falta de referência, podem ser apenas alguns aspectos que precisam ser melhor observados. Há de ter claro que o cidadão precisa ocupar seu espaço e ter uma participação ilimitada na comunidade onde vive. É um trabalho de formiguinha.

No último semestre, o GRPCOM, diante dos impactos da violência diariamente, seja no trânsito, no aumento de homicídios e no avanço do uso e comercialização de drogas, resolveu realizar a Campanha Paz Sem Voz é Medo em todo o estado. E o recado nada mais é do que lembrar que é preciso entender o nosso papel para a mudança de um cenário amedrontado. A sua voz pode fazer a diferença.

Aline Peres, repórter de Vida e Cidadania da Gazeta do Povo.

Fala, leitor

Leia alguns dos relatos e sugestões enviadas à Gazeta do Povo por leitores e internautas, sobre a necessidade de mais segurança:

"Curitiba merece ser uma cidade sem assaltos, roubos, vandalismo, violência e outras coisas ruins."

Osmair Silva dos Santos, 11 anos, aluno da Escola Municipal Erasmo Pilotto.

"Curitiba merece de presente que não tenha mais assaltos e vandalismos, que tenha mais viaturas nas ruas, asfaltos bons e mais segurança."

Elias Rocha do Carmo, 10 anos, aluno da Escola Municipal Erasmo Pilotto.

"Curitiba merece voltar a ser a cidade modelo que era e ser uma cidade segura para seus habitantes, para que possamos ir e vir e não termos nossa liberdade ameaçada pela violência que cresce a cada dia."

Claudio Prevedello Bento

"O curitibano vive com medo da violência que tomou conta da cidade. Assaltos, roubos, sequestros, mortes violentas, quer sejam no trânsito ou em ações criminosas, são um lugar comum nas manchetes dos jornais. Isto precisa mudar. Neste ritmo, que cidade deixaremos para nossos filhos e netos?"

Fred Branco

"Mais segurança. Creio que este é o presente que Curitiba e o Paraná merecem, precisam e desejam. Precisamos de efetivo policial maior, policiais civis e militares bem treinados, capacitados e bem remunerados."

Lucilene Carlos

As estatísticas da violência no Paraná e principalmente em Curi­­tiba assustam. Muito mais do que meros números, as taxas de homicídios que colocam o estado como o nono mais violento do país se traduzem numa sensação de insegurança palpável que restringe direitos básicos, como o de ir e vir. Não à toa, os leitores da Gazeta do Povo elegeram a construção de uma Curitiba mais segura como a segunda prioridade para 2012 – atrás apenas do pedido por políticos mais honestos e compromissados.

O consenso mostrado entre os leitores quanto à necessidade desse "presente" é resultado de um cenário que, se não é novo, atingiu patamares insustentáveis neste ano. O Mapa da Violência 2012, divulgado neste mês pelo Instituto Sangari, coloca Curitiba na sexta posição entre as capitais mais violentas do país, com uma taxa de 55,9 homicídios por 100 mil habitantes. Somente de janeiro a setembro, Curitiba registrou 562 assassinatos, segundo balanço da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Em tese, é como se não tivesse passado um dia neste ano em que pelo menos duas pessoas caíram mortas vítimas da violência na capital.

No entanto, em meio às más notícias, também há espaço para otimismo, mesmo que ele seja ainda alardeado tão-somente pelos gestores públicos. A tendência no número de homicídios é de queda, já comprovada em relação ao ano anterior. Principal bandeira até então do governo Beto Richa, o programa Paraná Seguro foi lançado neste ano com metas ousadas, como investir R$ 2 bilhões em segurança pública até 2015 para diminuir, ano a ano, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes em todo o estado.

A expectativa em relação aos frutos desse esforço é grande. Ao lado da população, os próprios agentes de segurança aguardam resultados concretos, defendendo principalmente duas demandas: reforço no efetivo policial e retirada dos presos das delegacias. O maior desafio parece ser mesmo esse último. Hoje, o Paraná é o estado com mais detentos mantidos irregularmente em carceragens. Dos 50,5 mil presos custodiados nas delegacias de todo o Brasil, cerca de 16 mil estão distribuídos entre as unidades paranaenses.

"Se o governador otimizar os recursos da polícia e tirar os presos das delegacias, a nossa contrapartida será dada. Queremos fazer o nosso trabalho, ir pra rua, fazer investigação, elucidar os crimes. Sem isso, 2012 será um ano igual ou pior do que 2011", defende o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Paraná (Sipol), Roberto Ramires.

E a população?

Para o coordenador do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, Algacir Mikalovski, o fato de a Sesp ter estabelecido metas objetivas para a diminuição dos homicídios é sinal suficiente para aguardar mudanças positivas a curto prazo. O pesquisador, porém, lembra que a busca por mais segurança não deve ser prioridade só do setor público. "O mesmo cidadão que está reclamando da polícia está comprando cigarro contrabandeado e DVD pirata, financiando a ponta duma criminalidade que tem um braço na violência", afirma Mikalovski.

Pequenos, mas atentos

Os críticos mais contumazes da mídia e do entretenimento digital – ou videogames, pra usar um termo popular – costumam destacar o papel negativo da exploração da violência junto aos jovens espectadores e jogadores. Se, de fato, hoje é comum encontrar crianças que já não arregalam os olhos ao ver um personagem irromper em sangue na tela, é preciso reconhecer que nenhuma violência fictícia deixa lembranças tão fortes quanto a real.

Os cinquenta alunos do quinto ano da Escola Municipal Professor Erasmo Pilotto, em Curitiba, não estudam em um dos bairros mais violentos da cidade. Mesmo assim, os jovens estudantes, de nove a 11 anos, não pestanejaram ao serem provocados pela professora: Curitiba merece de presente menos roubos, menos assaltos, menos violência. Curitiba merece ser uma cidade segura. Difícil imaginar que o trabalho em sala de aula, pautado na proposta da Gazeta do Povo de questionar quais as prioridades para a capital paranaense, surtisse efeitos diferentes em outras escolas de outros bairros da cidade. A sensação de insegurança não respeita limites geográficos, tampouco idade.

"Isso está refletindo a realidade deles, o que eles vivem, o entorno das escolas. Desde muito cedo, já estão por dentro desses problemas", analisa a professora da turma, Joseane Maia de Oliveira, docente há sete anos da Escola Erasmo Pilotto. O sonho por uma cidade mais segura só ficou à frente de outro pedido, tão prático quanto: a reforma da escola. Qual tem mais chances de virar realidade no próximo ano? Difícil dizer.

Para Joseane, porém, nem tudo é motivo para ceticismo. Se as crianças já estão preocupadas desde cedo em buscar mudanças, quem sabe elas não demorem tanto assim. "Eles (os alunos) são os agentes transformadores, que vão fazer o futuro do bairro, da escola, da cidade. Queremos que eles reflitam sobre que mundo eles querem e o que podem fazer para mudar esse mundo", profetiza a professora.

Como diriam os otimistas, meio caminho já está andado.

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