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Marilene e a filha Geovana: gravidez inesperada e emancipação "forçada" aos 16 anos de idade | Angel Salgado/ Gazeta do Povo
Marilene e a filha Geovana: gravidez inesperada e emancipação "forçada" aos 16 anos de idade| Foto: Angel Salgado/ Gazeta do Povo

Pequenos que cuidam de outros pequenos

Cumprir atividades domésticas em casa e cuidar de crianças menores são outras funções desempenhadas pelos pequenos. João*, 10 anos, conta que às vezes precisa cuidar das quatro sobrinhas, que têm entre 2 e 5 anos, enquanto a mãe dele não está em casa, no bairro Liberdade, em Colombo, região metropolitana de Curitiba.

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Formação

Eles precisam ter deveres

Se por um lado é extremamente nocivo crianças responderem totalmente pelo lar, por outro, alienar a criança de pequenas responsabilidades domésticas também é algo criticado. O psicólogo Eugênio Pereira de Paula Júnior, mestre e especialista em educação, defende que os pais mostrem ao filho desde pequeno que ele tem responsabilidade consigo e com as pessoas com as quais vive, exigindo contribuições como levar o prato à pia após a refeição e colocar a roupa no cesto. A mobilizadora da ONG Criança Segura Ingrid Stammer, concorda, e diz que os pequenos devem contribuir com a rotina da casa sem se expor a riscos.

De acordo com Eugênio, essas atitudes sociais são fundamentais para a formação do caráter de pessoas responsáveis. "É na família que a criança tem que aprender o que é responsabilidade social, que tem direitos, mas também deveres."

O psicólogo diz que, por mais que a condição financeira da família seja boa, é importante que a criança tenha suas obrigações domésticas, mas sem exageros. A consequência dessa falta de contribuição, explica, é que a criança vai achar que tudo é muito fácil na vida e, quando adulta, ser um indivíduo pouco empreendedor. (BMW)

Responsabilidade

Veja se seu filho pode ficar em casa sozinho.

Idade certa

Não é recomendado que crianças abaixo de 12 anos fiquem em casa sozinhas. Até os 14 anos o adolescente tem limitações relativas ao desen­­­volvimento tanto físico quanto emocional que o colocam em situação de risco.

Teste aos poucos

Faça uma avaliação para perceber se seu filho já conquistou autono­­­mia e independência. Deixe-o sozi­­­nho por pequenos períodos, em um processo gradativo, e confira o resultado.

Prepare a casa

Adaptações podem ser necessárias. Se houver crianças pequenas, proteja janelas e sacadas com redes. Afaste do alcance dos pequenos produtos de limpeza e medicamentos.

Orientação nunca é demais

Explique ao seu filho o que deve ser feito e a quem procurar em situações de emergência. Deixe uma lista de números de telefone importantes ao alcance dele.

Avise os mais próximos

Deixe vizinhos ou amigos que morem perto de sua casa de sobreaviso.

Fontes: ONG Criança Segura e especialistas.

  • Criancas do bairro Liberdade, em Colombo, que ainda não fazem parte do programa Catavento: situações de risco aumentam quando eles ficam sozinhos em casa

as 57 milhões de pessoas que são responsáveis por domicílios no Brasil. No entanto, completou, o dado reflete a presença de trabalho infantil na sociedade. Por lei, é vedado qualquer tipo de trabalho a quem tem menos de 16 anos, salvas situações excepcionais a partir dos 14 quando se tratar de aprendizagem.

Motivos

Para especialistas, fatores culturais e econômicos, ausência de políticas sociais, falta de educação sobre a vida reprodutiva e sexual e atividades ilícitas influenciam que jovens assumam responsabilidades cada vez mais cedo.

Para o casal Geovane da Silva e Marilene de Oliveira a ?emancipação? aconteceu aos 16 anos devido a uma gravidez inesperada. ?Assim que descobri que estava esperando um filho percebi que eu deixava de ser uma criança para ser uma mulher de verdade?, lembra Marilene, hoje com 19 anos.

Com o nascimento da filha Geovana, de 3 anos, o dia a dia das brincadeiras nas ruas da Vila San­­ta Maria, em Paranaguá, no litoral do Paraná, foram substituídas pela responsabilidade do cuidado de um lar. Geovane se viu obrigado a trabalhar como reciclador para ter as condições necessárias de criar a família. Trabalhando cerca de 10 horas diárias, inclusive aos sábados, ele recebe hoje cerca de R$ 500 por mês.

O que pode ser feito

Diante da responsabilidade precoce, o coordenador do programa internacional para Elimi­­­nação do Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Renato Mendes, afirma que é preciso garantir o acesso a serviços de qualidade, proporcionar programas de complementação de renda com critérios condicionantes e melhorar a educação. Para ele, o trabalho infantil é reflexo de fatores econômicos, culturais e educacionais.

Em 2010, o Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou 1.195 procedimentos no Paraná referentes a trabalho infantil. Para o procurador do MPT Alberto de Oliveira, poucos casos chegam até o órgão. ?Ainda há muito a ser feito.? Ele defende o projeto do MPT para inserir no currículo escolar de instituições municipais a matéria sobre combate ao trabalho infantil e o contraturno escolar.

A professora de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Jimena Aranda afirma que ?apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente prever uma porção de políticas públicas, ainda há um déficit entre o que existe na lei e a realidade?. Ela defende a importância de políticas públicas para evitar a responsabilidade precoce, como uma educação de qualidade.

No caso dos pais Geovane e Marilene, de Paranaguá, nenhum deles completou o ensino médio, embora tenham superado muitas dificuldades. ?Se antes eu brincava com uma boneca de pano, hoje brinco com uma que é mais linda e ainda fala, escuta e anda?, afirma sorrindo a mãe, que recentemente deu de presente uma boneca para a filha.

Proteção à infância Colombo

+ VÍDEOS

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Interatividade

O que pode ser feito para diminuir a responsabilidade que recai sobre crianças e jovens?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Colaborou Angel Salgado, correspondente em Paranaguá.

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