Pais e especialistas se preocupam com o fato de meninos e meninas recorrerem a cirurgias plásticas cada vez mais cedo para corrigir problemas estéticos. Mas em alguns casos a operação tem indicação médica e realmente deve ser feita ainda na infância. A cada mil nascimentos, é possível que pelo menos uma criança apresente defeitos congênitos que precisem de correção cirúrgica.

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De acordo com o cirurgião plástico e professor da Universidade Federal do Paraná Renato Farias, as anomalias congênitas com maior incidência são as que comprometem o lábio e o céu da boca. São as chamadas fissuras lábiopalatinas. "A cirurgia para correção pode ser feita a partir do terceiro mês nos casos em que apenas o lábio é comprometido", afirma o médico. Quando o problema atinge também o palato é preciso esperar até um ano de idade.

Farias explica que, assim como acontece com a maior parte das anomalias, as fissuras surgem no primeiro trimestre de gestação, quando se formam todas as cavidades do corpo. No segundo mês, o embrião se curva sobre si mesmo e suas extremidades se fundem, dando origem às cavidades bucal, torácica e abdominal. Quando esse processo natural é interrompido, ocorrem anomalias.

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Orelhas de abano

De acordo com o cirugião plástico André Auersvald, outro problema bastante comum em crianças diz respeito à formação das orelhas. Há desde problemas mais simples – como orelhas de abano – até casos mais raros, em que a criança nasce sem as orelhas. Segundo o médico, a cirurgia nestes casos deve ser feita o quanto antes. "A cirurgia, chamada otoplastia, pode ser feita por volta dos cinco ou seis anos, de preferência na fase pré-escolar, para evitar que a criança sofra algum tipo de discriminação por parte dos colegas", afirma. O médico conta que é preciso esperar esta idade porque é quando as orelhas já estão com seu desenvolvimento quase completo. A cirurgiã plástica Ruth Graf explica que a criança já nasce com a orelha em abano. "A anomalia se caracteriza pela falta de uma dobra na cartilagem", esclarece.

A empresária Daniele Koppe achou melhor que o filho Lucas, de 6 anos, fizesse a cirurgia ainda pequeno. A intervenção foi feita no ano passado. "Meu marido sofreu muito com as orelhas de abano quando era criança, não queríamos que o Lucas passasse pelo mesmo problema", conta.

De acordo com a psicológa e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná Rosa Maria Mariotto, a partir dos dois anos de idade a criança já é capaz de reconhecer sua imagem no espelho e portanto consegue perceber se tem alguma característica que a destoa dos demais. "Quando a criança nasce com algum desvio que a torna diferente, isso atinge a construção de sua identidade", afirma. "Além disso, o primeiro espelho da criança é o olhar dos outros. Se há algo diferente isso vai incomodar", diz.

Outro problema congênito freqüente em crianças são os chamados hemangiomas, tumores provocados pela proliferação dos vasos sangüíneos. Segundo Auersvald, eles aparecem como manchas vermelhas em qualquer parte do corpo. "Embora a maioria regrida espontaneamente até os 7 anos de idade, em alguns casos é necessária a intervenção cirúrgica", diz.

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Nos meninos, pode ocorrer ainda o desenvolvimento excessivo das mamas durante a puberdade. A alteração geralmente é causada por mudanças hormonais e a incidência chega a 65% em jovens entre 14 e 15 anos. Em alguns casos, a glândula regride naturalmente. Quando isso não acontece, é indicada a correção cirúrgica. "A intervenção é importante para evitar complexos psicológicos", afirma Auersvald.