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Litoral

Crime ambiental põe 18 na cadeia

José Ananias, ex-prefeito de Guaratuba, removido para Curitiba: investigação apontou político como líder do grupo | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
José Ananias, ex-prefeito de Guaratuba, removido para Curitiba: investigação apontou político como líder do grupo (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Confira como funcionava o esquema segundo a polícia |

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Confira como funcionava o esquema segundo a polícia

Dezoito pessoas foram presas ontem em caráter preventivo pela Polícia Federal (PF) no Litoral do Paraná e em Guaramirim (SC), acusadas de integrarem uma quadrilha especializada na extração ilegal de palmito-juçara (espécie em extinção) em três áreas de preservação natural: Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange e em Áreas de Pro­teção Ambiental (APA) em Gua­raqueçaba e Antonina. Vinte mandados de busca e apreensão foram expedidos para recolher provas em documentos e notas fiscais. Entre os acusados estão cinco funcionários públicos e o ex-prefeito de Guaratuba José Ananias dos Santos, que é apontado como o mentor da quadrilha e principal beneficiado pelo grupo criminoso. A ilegalidade aconteceria através da Indústria de Conservas Palmeira, pertencente ao ex-prefeito.

Até a noite de ontem, a polícia ainda não tinha conseguido cumprir o mandado de prisão contra o atual vice-prefeito de Guaratuba, José Ananias dos Santos Júnior (filho do ex-prefeito), que também trabalha na empresa da família.

A empresa de Ananias comercializa palmito em São Paulo e Santa Catarina, além do Paraná. A quadrilha é investigada há 11 meses, mas a Polícia Federal (PF) não tinha um balanço da quantidade de palmito extraída irregularmente e do montante arrecadado pelo grupo no período. Além do ex-prefeito, foram presos o procurador-geral do município, Jean Colbert; o sargento da Força Verde (Polícia Militar) Valmor Santana Filho; o fiscal do Instituto Am­­biental do Paraná (IAP) Francisco Antônio Torres de Oliveira; e o chefe da Ciretran em Guaratuba, Mordecai Magalhães de Oliveira. Além deles, a PF prendeu ontem cinco donos de propriedades rurais, cinco funcionários da empresa – entre eles a filha de Ananias, Joice Mara dos Santos – e dois motoristas. Todos são acusados de integrar o grupo e vão responder por vários crimes, como ambiental (pela extração do palmito), formação de quadrilha e corrupção ativa e passiva.

O ex-prefeito José Ananias não quis comentar a prisão. Perguntado sobre as acusações, limitou-se a dizer "nada, nada" enquanto era removido da PF em Paranaguá para o Batalhão da Polícia de Guarda, em Curitiba, onde ficará detido. Ele foi transferido ainda ontem juntamente com outras cinco pessoas para a capital por terem curso superior ou por serem funcionários públicos. Os demais foram levados para delegacias de Paranaguá, Morretes e Antonina.

Segundo o delegado-chefe da PF em Paranaguá, Jorge Luiz Fayad Nazário, a quadrilha montou um grande grupo de tráfico de influência para garantir a retirada do palmito das áreas de preservação até o produto ser entregue no comércio, depois de envasado na indústria de Ananias, em Guaratuba. Cada integrante seria responsável por uma parte da fraude. O procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Paranaguá, Alessandro José Fernandes de Oliveira, informou que foram realizadas escutas telefônicas autorizadas pela Justiça durante três meses para comprovar a articulação do grupo.

Operação

Segundo a denúncia, funcionários de Ananias realizavam corte ilegal do palmito-juçara nas áreas de preservação e em propriedades rurais. Autorizações do IAP eram fraudadas ou reusadas para dar caráter legal ao transporte do produto in natura. Algumas liberações seriam conseguidas por meio do funcionário do IAP Francisco Antônio Torres de Oliveira. Porém, com o mesmo documento a quadrilha conseguiria retirar até quatro cargas da floresta, além da quantidade permitida. "(Ele) servia como despachante do Ananias. Às vezes, (ele) conseguia autorização para 2 mil cabeças (de palmito), mas cortavam até 4 mil", afirmou o delegado. O funcionário é suspeito ainda de adulterar as autorizações de corte para beneficiar Ananias.

Para levar o produto até a indústria sem o risco de fiscalização, eles contariam com o auxílio do sargento da Polícia Militar. O procurador de Guaratuba Jean Colbert faria a assessoria jurídica da quadrilha e teria coagido testemunhas. Fayad revelou que Colbert teria instruído um funcionário da empresa a alterar o depoimento prestado à PF depois de ser preso no início do ano, quando admitiu trabalhar para Ananias. O advogado teria orientado ao trabalhador alegar tortura dos policiais.

Já o chefe da Ciretran, Mordecai Magalhães de Oliveira, ex-vereador em Guaratuba, seria uma espécie de "olheiro". Ele consultava placas de veículos nas proximidades das áreas de preservação para tentar identificar carros usados pela polícia.

Outro lado

A assessoria de imprensa da prefeitura de Guaratuba afirmou que a prefeita Evani Cordeiro Justus não vai se pronunciar sobre o caso. Entretanto, a prefeitura divulgou nota afirmando que não participa de crime ambiental e que não tem conhecimento de que agentes públicos municipais tenham participado.

Já Júlio Ricardo Araújo – advogado de Mordecai Magalhães de Oliveira – afirmou que não havia nenhuma comprovação de que seu cliente tenha praticado crime ambiental. "O crime é ter cortado e comercializado o palmito e meu cliente não fez isso", afirmou.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais acusados.

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