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A violência dentro da família chega cada vez mais à porta das delegacias de polícia. E os casos estão cada vez mais sérios. Além dos pequenos furtos dentro de casa (delitos considerados corriqueiros), os boletins de ocorrência estão registrando com freqüência casos graves: neto que rouba os avós, filho que mata mãe sufocada e depois a degola, abuso sexual contra bebês, espancamento de esposas, filho assassinando pai que, por sua vez, ameaçava toda a família. Os boletins de ocorrência têm espaço também para histórias que parecem saídas de comédia pastelão, que são casos de fofocas feitas por cunhadas que acabam causando indignação em uma das partes envolvidas.

No jargão policial, essas condutas são traduzidas simplesmente como homicídios, ameaças, agressões físicas, calúnia, difamação, entre outros delitos. Um item curioso é que a legislação perdoa e não prevê nenhuma pena aos furtos caseiros realizados por conjugês, filhos e filhas.

Traduzindo o problema em números, tem-se uma noção mais precisa de como anda a violência familiar. Somente a Delegacia da Mulher de Curitiba registrou uma média de 20 casos por dia nos primeiros seis meses deste ano. A maior vítima nesses casos é a esposa ou a mãe idosa, que normalmente recebe o filho recém-separado em casa. Já a Delegacia do Adolescente Infrator recebe 40 casos por mês, muitos deles fruto de rebeldia que vira dor de cabeça para os pais. Já o Núcleo da Criança e do Adolescente (Nucria) registrou 48 casos de estupro e atentado violento ao pudor cometidos dentro de casa, por pais, tios, avós e padrastos (os números são de outubro do ano passado a maio deste ano). Além disso, os 13 distritos policiais da capital encaminham aos juizados especiais milhares de delitos considerados de menor potencial ofensivo cometidos por parentes (brigas e ameaças, por exemplo).

Caso de polícia

Na semana retrasada, o pai de uma adolescente de 15 anos foi até a Delegacia do Adolescente Infrator de Curitiba porque a garota teria falsificado a assinatura da mãe numa autorização para colocar um piercing. Ele acabou indo embora quando descobriu que teria que incriminar a própria filha para questionar o profissional que colocou o piercing nela.

Para a delegada Selma Braga de Morais, os pais são os culpados por este tipo de situação porque não conseguem colocar limites nos filhos. "Eles acabam virando vítimas deles próprios." De acordo com a delegada Darli Rafael, da Delegacia da Mulher, a violência doméstica existe em todas as classes sociais. "O histórico dos casos contra mulheres é quase sempre o mesmo, só muda o endereço, do Jardim Social até a Vila das Torres. As agressões ocorrem por motivos banais, irrelevantes, intolerância, falta de diálogo e uso de drogas."

A psicóloga Lídia Weber, coordenadora do núcleo de análise de comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que os pequenos delitos nascem justamente no ambiente familiar, das lições erradas. Por exemplo: quando se recebe o troco errado no supermercado, mas não se devolve o dinheiro a mais; da mentira para não atender o telefone ("diga que não estou"). "Numa família maravilhosa, se o filho usa drogas, é preciso pesquisar o porquê. Se isso [o uso de droga] ocorre, a família não é tão maravilhosa assim."

A criança, nesses casos, é o ponto mais frágil. A família, diz Lídia, é o ponto fundamental para a criança. " Os abusos físicos, sexuais e a negligência podem gerar comportamentos anti-sociais", afirma.

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