Atire o primeiro pedaço de tender quem nunca deu aquela esquentadinha no que restou da ceia de Natal ou do Ano- Novo no dia seguinte da festa. Em muitas casas, dias 25 de dezembro e 1º. de janeiro são dias de juntar o que sobrou do leitão, remendar a salada, esquentar o arroz e reunir toda a família de novo para o almoço. O problema é que na maioria das vezes os alimentos são deixados sobre a mesa enquanto duram as comemorações. Um prato cheio para microorganismos que podem transformar as festas de fim de ano em um grande mal-estar.
De acordo com o biomédico Roberto Martins Figueiredo, o Dr. Bactéria do quadro "Tá limpo", do Fantástico, os cuidados com a ceia devem começar na compra dos alimentos. Portanto, quem vai comprar os ingredientes ou está pensando em encomendar os pratos de um bufê, deve prestar atenção em algumas dicas. "As carnes nas gôndolas de supermercados devem sempre estar dispostas abaixo de um tracinho que existe na câmara refrigerada; se estiver para cima, ele não vai estar na temperatura adequada e já pode ter alguma alteração", explica.
Outro cuidado importante é ir direto para casa depois das compras. Produtos congelados resistem apenas meia hora sem refrigeração. "Se for demorar mais do que isso, o ideal é colocar as compras dentro de um isopor ou de uma bolsa térmica com gelo", afirma.
O preparo
Na hora da preparação, atenção para a higiene. "Os alimentos que precisam ser manipulados, como o frango desfiado para o salpicão, por exemplo, são os que tem mais chance de sofrer alguma contaminação", explica a engenheira de alimentos e professora da disciplina de microbiologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Márcia Beux. Segundo ela, existem microorganismos, como o Staphylococcus aureus, que resistem mesmo à lavagem das mãos. "Com a manipulação, eles são tranferidos para os alimentos e se o produto não for refrigerado a proliferação é rápida", alerta. O Staphylococcus produz uma toxina que em poucas horas começa a manifestar sintomas.
As hortaliças e frutas de época requerem igual atenção e cuidados. A higienização adequada ajuda a evitar amebíase e hepatite. De acordo com Figueiredo, é muito importante que os alimentos sejam bem assados. "Com o forno a 80ºC elimina a salmonella, por exemplo", afirma. O biomédico alerta também para outro erro freqüente: assar a comida muito tempo antes do consumo ou reaquecê-la de forma inadequada. Quando isso acontece, o alimento fica levemente aquecido por fora e frio por dentro, facilitando o desenvolvimento de microorganismos. "O correto é aquecer até que saia vapor", afirma. Já as sobremesas devem ser colocadas à mesa somente na hora de serem servidas e logo devolvidas à geladeira. Os doces que levam ovos crus são os têm mais chance de ocasionar uma intoxicação.
Depois da ceia, tudo que sobrou deve ser levado à geladeira, mesmo quente. Os pratos só podem ser cobertos mais ou menos duas horas depois. Antes é preciso deixar o ar circular. Para a tradicional requentada do dia seguinte, os alimentos devem ser retirados da geladeira próximo da hora da refeição e esquentados até sair o vapor.
Perigos da intoxicação
A principal dificuldade para evitar as intoxicações é que em geral os microorganismos nocivos não causam alteração na aparência, gosto ou odor dos alimentos. "Não tem como perceber visualmente a contamiação", diz Márcia. De acordo com o médico gastroenterologista Marcos Sigwalt, do Hospital Vita, crianças e idosos merecem especial atenção nos casos de intoxicação. "As crianças desidratam mais facilmente enquanto os idosos têm o sistema imunológico mais debilitado. É importante que nos casos em que haja uma perda muito intensa de água, por conta de vômitos ou diarréia, que se procure ajuda médica", aconselha.